29.6.07

Acepipes com tomates

E não é que eu, que nem mexo com ninguém, tomei três tomates nas fuças? Mas, como a auto ajuda me ensinou que "se um dia lhe jogarem tomates, junte e faça um molho bolonhesa", não levarei para o lado pessoal. Só que hoje estava de camisa nova, minha mãe me mata...
     Para quem não sabe, explico: ganhei três indicações ao Blog com Tomates. É uma brincadeira (na verdade, uma iniciativa séria) que premia os blogs que lutam pelos direitos fundamentais do Ser Humano.
     Quem começou o ataque foi a Nathalia. E ainda foram na onda o Rob e a Isadora.
     Sabe quando você vai ao show dos Stones, e o Keith Richards te chama no palco para tocar guitarra com ele? Ok, eu não toco guitarra, mas vocês entenderam a metáfora: é uma honra receber uma indicação de gente que escreve bem. Muito obrigado!
     Aproveito também o momento de microfone, guitarra, comoção e essas coisas para deixar outro agradecimento. Em pouco mais de seis meses, o Acepipes ganhou leitores além do que eu esperava —passamos das dez mil visitas!. E, não bastasse eu e o Rex já termos conhecido tudo quanto é sotaque do Brasil, agora ainda temos a alegria de ouvir o português dos gajos d'além mar!
     Se pudesse, agradeceria a todos pessoalmente. Sinceramente.
     Bom, tenho agora cinco tomates madurinhos, vermelhinhos na mão. Os lambuzados são:

     Championship vinyl - não é por vingança que eu devolvo o tomate, o cara merece, não conheço um blogueiro que não queira ter um blog como o dele;
     Palavra por palavra - uma jóia portuguesa que eu descobri esses dias;
     A prateleira - foi um dos primeiros blogs que conheci, e continuo lendo cada post com o mesmo sorriso de surpresa no rosto;
     Tempo de Saturno - uma alma posta em versos;
     Verso, verbo, (p)rosa - uma alma posta em prosa.

     Agora só um momentinho que eu preciso trocar de camisa.

26.6.07

Prima Doroti

Contrariado, seu Glicério, bermuda e chinelo, empurrava o carrinho pelos corredores do supermercado, arrastando os pés. Dona Eulália corria de uma prateleira a outra.
     — Será que ela prefere molho ao sugo ou bolonhesa?
     — Qualquer um. Quem vê pensa que ela faz cerimônia para comer.
     "Ela" era a prima Doroti, que vinha do interior para fazer uns exames do coração e aproveitaria para almoçar e passar a tarde com dona Eulália. Mexericando e beliscando, como diz nosso amigo. E ele que pensou que os problemas com família haviam terminado quando enterrou a sogra. Que nada.
     — E vamos levar uns sequilhos, para a gente conversar de tarde.
     Exatamente: mexericando e beliscando, pensou nosso amigo. Doroti era prima de primeiro grau de dona Eulália. Herdara em tudo os hábitos da geração anterior das matriarcas da família. O mesmo jeito de falar com o dedinho levantado na asa da xícara, o mesmo jeito de andar, lidando com todo aquele tamanho; o mesmo jeito de apertar as bochechas das crianças, que do mesmo jeito fugiam dela. Usava, por baixo das saias, as mesmas anáguas também.
     — Não me deixa esquecer o chuchu para o suflê.
     Ia ser aquela de sempre. Prima Doroti chegaria, ofegante, e jogando todo aquele peso no sofá. Abanando-se com o mesmo lenço listrado com que enxugava a testa lustrosa e queixando-se que a vida não anda fácil, menina. De lá só se levantaria para sentar-se à mesa, não antes de fazer alguma cerimônia, que ela está de dieta, mas vai aceitar só porque o suflê está lindo.
     Durante o almoço, prima Doroti contaria a mesma história da vizinha que fugiu com o padeiro e largou as três crianças, vê se pode? Talvez falasse também daquela do conserto da geladeira. E a dona Eulália ali, mão no rosto, escandalizada.
     Ainda sem se levantar depois do almoço —e deixa que o Glicério lava a louça, que ele adora ajudar em casa—, iriam tomar chá com bolachas —muitas bolachas, que, ai, estes sequilhos estão maravilhosos. E as risadas? Seu Glicério tentava nem pensar nas risadas. Na saída, a prima ainda levaria uma travessinha de bolo de laranja com coberta por um pano de prato bordado. Mas só para não fazer desfeita, menina.
     Tudo isso ainda não havia acontecido. Mas nosso herói já sofria por antecipação.
     — Você está vermelho, Glicério. Vou aproveitar a prima para medir sua pressão. Ela fez enfermagem no curso técnico quando era mocinha.
     O bom era que o mercado estava cheio de moças sorridentes com amostras grátis. Assim ele se distraía um pouco.

18.6.07

O sino

Epílogo
(Partes anteriores: I, II, III, IV e V)

Foi um leilão acirrado. As peças eram ótimas, algumas bastante raras e, apesar dos figurões que dobravam e redobravam os lances, o doutor L. conseguiu arrematar um bom lote delas. O leiloeiro, antes de tomar o generoso cheque, explicou rapidamente que todas as antigüidades pertenceram a um colecionador que morrera alguns meses antes, sem deixar herdeiros.
     Tudo foi entregue no dia seguinte, por uma empresa especializada, numa casa refinada afastada da cidade. Acompanhava o lote um cartão de aniversário para sua esposa, amante de história da arte.
     Quando a última caixa foi posta no chão pelos carregadores, ela teve a impressão de ouvir o barulho de um sino. Assinou os recibos, entrou e fechou a porta, ansiosa para descobrir com quais tesouros seu marido havia lhe presenteado.

O sino

V - Final
(Partes anteriores: I, II, III e IV)

Encontraram o corpo somente alguns dias depois, já cheirando mal. Por mais que seus hábitos fossem discretos, alguns vizinhos e comerciantes deram pela falta dele, cliente sempre fiel. Não foi preciso procurar pelo apartamento: assim que a porta foi derrubada, ali mesmo, aos pés dela, deram com o sr. D. estirado no chão.
     O que viram chocou até os mais insensíveis: o corpo inteiro havia se retorcido numa agonia dolorosa. No rosto, praticamente desfigurado numa careta grotesca de terror, os olhos saltados miravam na direção da porta, testemunhas de alguma visão terrível. As mãos rígidas seguravam desesperadamente um martelo. O que quer que ele fosse pregar ou arrancar nunca se soube.
     Minutos depois, o apartamento, antes um paraíso de silêncio e ordem, foi tomado por uma agitação que deixaria o sr. D. transtornado. Desarrumaram as estantes, esbarraram em estatuetas, pisaram em gravuras caídas no chão. Descuidados. Policiais, detetives, legistas, testemunhas, ninguém soube explicar nada.
     Não havia nenhum sinal de invasão, nada havia sido levado e a corrente da porta, que somente fechava por dentro, estava intocada até que os vizinhos a estouraram. Nenhuma marca no corpo, nada que acusasse assassinato ou suicídio.
     E, quando o corpo do infeliz sr. D. foi carregado para fora e sua porta fechada pela última vez, ouviu-se o doce bater de um sino inocente.

14.6.07

O sino

IV
(Partes anteriores: I, II e III)

"Querido" talvez não seja a palavra mais exata para dizer como o sr. D. era visto pelos vizinhos. Era mais como se todos estivessem acostumados à sua presença silenciosa depois de tantos anos ali. E foram os mais habituados que notaram primeiro as mudanças no seu comportamento.
     Numa manhã, a senhora da barraca de frutas achou-o pálido, fragilizado, como quem carrega uma doença terrível e corrosiva dentro de si. E foi o porteiro do prédio quem primeiro notou, dali a alguns dias, as olheiras fundas de quem luta a noite inteira pelo sono que não vem. De fato, quem se encontrava com ele tinha a impressão de um homem cansado, oprimido por algum peso. Mas, como o sr. D. mantinha a mesma reserva de costume, ninguém encorajou-se a perguntar-lhe nada.
     Não tardou a surgir o boato de que estivesse um pouco desequilibrado. Certa vez, ele vendia alguns volumes antigos para o livreiro quando, na rua, o vendedor de doces tocou seu sino chamando pelas crianças. Ao ouvir isso, por um instante, a expressão do sr. D. transformou-se numa careta de horror. Os olhos procuraram, rápidos, de onde vinha o som. Quando viu que se tratava apenas do doceiro e caiu em si, corou de vergonha, aceitou rápido o preço excessivamente baixo que o livreiro havia proposto de início e saiu às pressas, embaraçado.
     Concluíram que talvez fosse insônia. Os vizinhos de baixo ouviam-no freqüentemente andando pelos cômodos durante a madrugada, numa ronda não se sabe à procura de quê. Os moradores do outro lado da rua confirmaram que havia uma luz sempre acesa no apartamento. Mas, além disso, quem cruzava com ele na rua pôde reparar que o sr. D. olhava para os lados, em movimentos furtivos, enquanto andava, como que procurando ou fugindo de alguém. Ao passo que, em duas semanas, a aparência exterior do sr. D. estava totalmente transformada.
     Esta mudança não passou despercebida aos seus próprios olhos. Ele ouvia os boatos da vizinhança, mas sabia que nada tinha de louco. Ao contrário, continuava o mesmo homem sensato de sempre. O ponto é que era exatamente esta sensatez que lhe atormentava: ele resistia a todo tipo de pensamento sobrenatural, mas noite após noite crescia-lhe a dúvida de ser vigiado por dois olhos silenciosos na escuridão.
     No apartamento do sr. D. reinava a mesma ordem e o mesmo silêncio de sempre, mas era como se ele se sentisse inconsolavelmente desprotegido.

(próximo capítulo)

13.6.07

O sino

III
(Partes anteriores: I e II)

O sr. D. levantou-se, como sempre, às sete em ponto. Apesar de ter dormido bem, setiu o corpo cansado como nas suas não raras noites de insônia. Estranho, mas um belo café da manhã certamente lhe faria bem.
     Vestiu-se e sorriu ao ver a taça deixada na sala de leitura: como um lugar tão agradável parecera tão assustador na noite passada? E, quando saiu, o gracioso repicar não lhe lembrou nada com o som agourento que ouvira. Fora traído por um sonho. Como é que se deixara levar por uma tolice dessas?
     Acabou passando o dia todo fora e voltou, já noite alta, depois do jantar. Tinha novas aquisições: umas xilogravuras do século XIX que encontrara meio que por acaso numa lojinha de molduras. O dono da loja, ignorante do valor real, as vendera por uma bagatela. Deixou-as em meio a outras tantas que, um dia, seriam catalogadas e arquivadas nas estantes de madeira escura. A vida do sr. D. era isso, mas isso lhe agradava.
     Homem metódico, ele deitou-se na mesma hora de sempre: às onze. Tomou da cabeceira o livro que estava lendo, fez meia hora de leitura e apagou a luz na hora de sempre: onze e meia. Acabava um dia comum.
     O sr. D. fechou os olhos num longo e satisfeito suspiro. Estava sozinho no escuro e ouviu uma música suave: era um sino que tocava de algum lugar distante.
     Um outro som foi se definindo até que, bem perto de si, ele ouviu o resfolegar de uma criatura que não conseguia ver. Logo acenderam-se à sua frente dois olhos de brasa. O sino tocava agora mais e mais forte, frenético, a medida que os olhos se aproximavam, olhos de uma crueldade que lhe gelou a alma. Já podia sentir o hálito quente de alguma boca monstruosa, escondida nas trevas.
     O sr. D. acordou assustado. Sentado entre os lençóis, ele estava ofegante, encharcado em suor. Só um pesadelo.

(próximo capítulo)

11.6.07

O sino

II
(Parte anterior: I)

Quando voltou do jantar, o sr. D. foi surpreendido pelo sino ao abrir a porta. Ainda não estava habituado a ele e, para um homem já tão acostumado à vida solitária, ter algo agora que o saudasse era uma novidade. Mas não deixava de ser agradável, um som até bastante simpático.
     O sr. D. deixou o paletó no cabideiro e sentou-se na sua poltrona preferida, à meia-luz, para apreciar um vinho que estava guardando há alguns dias para uma noite bela como esta. Era nestes momentos que lhe agradava morar sozinho, sem ninguém que perturbasse sua paz. Bebeu com prazer, deixou a taça na mesinha e fechou os olhos numa satisfação tranqüila. Acabou cochilando não mais que alguns segundos e ouviu, abafado, o badalar de um sino distante.
     Acordou tomado de uma sensação estranha, como a que tinha ao ficar muito tempo junto de alguém. Para o sr. D, afeiçoado durante anos à solidão, a presença de outra pessoa sempre causava um certo desconforto, como se lhe invadissem a intimidade. Então, súbito, foi tomado de uma certeza: havia mais alguém ali! O sr. D. explodiu num gesto brusco, girando a cabeça, certo de que ia dar de cara com um visitante inesperado, ali ao seu lado. Olhou em volta e não viu ninguém.
     Contendo-se, ele inclinou a cabeça e aguçou os ouvidos. Exceto pela sua respiração um pouco alterada e pelo pêndulo do relógio no corredor, tudo era o mais absoluto silêncio. Não se via nada, não se ouvia nada. Certificou-se de que a porta continuava trancada como ele a havia deixado. Deu com o pequeno sino imóvel, quase inocente e, claro —o sr. D era um homem racional—, que se a porta tivesse se aberto, a campainha ainda estaria agitada.
     Por um segundo, quando o sr. D. olhou pelo corredor, pareceu-lhe que as luminárias esverdeadas tinham uma brilho diferente, lúgubre. O que ele achou ser uma ilusão tola, pois, quando piscou de novo, tudo já lhe parecia absolutamente normal. Olhou pelos outros cômodos e só deu com as mesmas vistas a que já estava acostumado por tantos anos. Não havia ninguém no apartamento, o sr. D. continuava como sempre esteve: sozinho.

(próximo capítulo)

9.6.07

O sino

     While I nodded, nearly napping, suddenly there came a tapping,
     as of some one gently rapping, rapping at my chamber door.

     -The Raven, Edgar A. Poe

I

Foi um antiqüário já velho conhecido que ofereceu ao sr. D. o sino. Um antigo sino dourado, pequeno, liso, sem nenhum ornamento a não ser o suporte por onde ele seria pendurado. Suporte no qual dois pregos enferrujados ainda sujos de reboco denunciavam que ele fora arrancado sem nenhum cuidado da parede do seu último dono. Como a peça o agradara e o preço era justo, acabou sendo somado à coleção do sr. D.
     Ele era um homem de vida confortável. Vivia num apartamento grande o suficiente para sua biblioteca e coleção de arte, vastíssimas, mas não grande o suficiente para outra pessoa além dele: havia morado toda a vida sozinho. Era um homem de aparência um pouco excêntrica e aspecto sério, um tanto cinzento. Os vizinhos pouco sabiam a seu respeito, exceto que morava ali há muitos anos, e que fora sempre muito reservado. Tratava a todos com um respeito distante que beirava a frieza. Mas não havia nele nada para que mostrasse que era um homem mau; e, de fato, não o era.
     Tornara seu apartamento numa espécie de santuário. Nos pesados móveis de madeira de lei apinhavam-se estatuetas e pequenos objetos antigos, enquanto que as paredes eram cobertas de quadros e gravuras em pesadas molduras douradas. Nas estantes de madeira escura ele mantinha milhares de livros, entre eles algumas edições únicas e obras raras; todos em sisudas encadernações de couro. À tarde, a luz do sol, filtrada pela cortinas sempre fechadas, pintava o lugar de um dourado quase alegre.
     Mas a enorme quantidade desses objetos não trazia desordem alguma ao lugar, que era de uma meticulosa ordem e limpeza. Lá dentro tudo era um silêncio quase sagrado, somente quebrado pelo suave badalar das horas no relógio carrilhão.
     O sino, que o sr. D agora carregava numa sacola, não tinha mais que o tamanho de um punho fechado, mas carregava em si três séculos de histórias misteriosas desde que, segundo o antiqüário, havia sido retirado de uma capela em ruínas. Mas ao sr. D. somente interessava saber que lhe havia encantado a beleza singela da peça, e nada mais. Era um homem cético, sem nada de supersticioso. Mesmo porque se levasse em conta as histórias fúnebres que cercam estas coisas antigas teria mesmo de jogar fora metade de seus objetos.
     Como as mesinhas e consoles já estavam saturados, ele decidiu pendurar o sino na porta de entrada do apartamento, como nos antigos estabelecimentos, onde uma sinetinha simpática saudava os clientes. Algumas batidas na madeira macia e o suporte estava fixado.
     Meteu-se o resto da tarde a encontrar um bom lugar para uns ótimos volumes alemães que havia comprado. Mais tarde saiu para jantar e ouviu pela primeira vez, satisfeito, o suave badalar quando puxou a porta. Alegrou-lhe a boa aquisição.

(próximo capítulo)

7.6.07

Dia de inverno

Um pouco sem jeito
na paisagem gelada,
o sol sorri tímido.

2.6.07

Conversa de elevador

Cansado de tanto ouvir conversa sem graça de elevador —"tempinho louco, hein, amigo?", "ih, esse fim de semana é chuva!", "e o Coringão, que vergonha!" etc—, o José ascensorista decidiu virar a mesa. Ser um bom papo.
     Como trabalhava numa torre comercial —o público era refinado—, ele assinou a Gazeta Mercantil, assistiu uns documentários na tevê e comprou fascículos para aprender inglês. Pediu férias —que estavam vencidas há tempos— e se aplicou ao projeto. Quando voltou, um mês depois, iniciou a revolução, numa segunda-feira, oito da manhã. Um engravatado entrou, pediu o décimo sexto, por favor, olhou as horas e mandou a de sempre:
     — Tempinho feio, hein, amigo?
     Ah, antes o José aceitaria esse tipo de conversinha sem-vergonha. Passaria o dia todo nesse chove-e-não-molha de papinho sem sal. Mas não agora. Agora o José era um novo homem:
     — Mas sabe que isso é efeito do el Niño, patrão. O safado bagunçou a temperatura no oceano Pacífico. O que era até previsível este ano, pela média dos intervalos dele no último século.
     E assim foi. Entrava o consultor de investimentos de uma multinacional falando no celular. Quando o cara desligava, o José já emendava em cima, para evitar que o sujeito puxasse aquele papinho sem graça:
     — Com licença, doutor, mas olha, o mercado de commodities não anda bem das pernas, um pouco por influência da bolsa de Xangai. Minha dica: fique atento ao índice Nasdaq. Sétimo andar, bom dia para o senhor, chefe.
     Ou outro, no fim do expediente.
     — Ê, sexta-feira! É hoje que a gente manda aquele cervejinha, hein, Zé?
     — Na verdade, doutor, eu estava pensando num chianti, vai harmonizar muito melhor com o picadinho que a mulher está fazendo lá em casa.
     E o doutor ali, de queixo caído.
     Não deu outra. Um dia entrou o doutor Rubião, figura carimbada do mundo business, presidente de umas dessas multinacionais que —por baixo dos panos— mandam na vida de todo mundo e ficou maravilhado com o talento do José. Era o vice perfeito para suas organizações! Mas o José recusou o convite:
     — Imagina, patrão. Eu virar doutor?
     Mas o doutor Rubião não era homem de perder uma negociação. E, se ele queria o José na sua companhia, ele teria o José na sua companhia. Insistiu, aumentou, dobrou a oferta, ofereceu motorista, férias nas Bahamas. E o ascensorista irredutível:
     — Aqui é meu lugar, doutor, eu não saberia viver dentro de um escritório.
     Essa foi a deixa para chegarem num acordo. Assinaram contrato e hoje o José é vice-presidente da multinacional: instalou mesa, computador, telefones e uma poltrona de couro legítimo dentro do elevador. De lá, entre o térreo e o vigésimo sexto andar, ele comanda um império comercial espalhado por todo o mundo. E ainda dá para tirar uns troquinhos como ascensorista, só por amor à camisa.

1.6.07

Plantão (é, de novo...)

Ganhei um belo —e nada merecido— post de uma grande amiga da casa, a Claudia. Como é legal a gente sentar no computador e encontrar gentileza, delicadeza e amizade do outro lado da tela.
     Leiam no Lis'upgrade.

* * *
Talvez vocês tenham notado o banner ali do lado, com um número três. Terceiro lugar foi o que o Acepipes ganhou numa votação de melhor blog na comunidade Blogspot.com (blogger) no Orkut.
     Muito obrigado a todos os que escolheram o Acepipes dentre os ótimos blogs da lista. E muito obrigado também aos que votaram nos outros blogs, os caras realmente merecem os votos de vocês. São uns sujeitos que entendem da coisa.
     1. Championship vinyl
     2. Dan Moura
     4. Maldita palavra
     5. Agnóstico vagabundo

* * *
Eu mantenho também um fotolog —comecei com mania de adolescente depois de velho—, que é como uma filial daqui: o Acepipes fotográficos, onde eu publico fotos e haicais três vezes por semana. A quem interessar possa, está aqui o link.