Saí de Copacabana meio fugido. Não quis nem saber de mais fotos do caminho, nem de lago Titicaca, nem de puxar papo com ninguém. Cheguei em La Paz e fui à embaixada brasileira. Não sei dizer por quê, sinceramente. Talvez esperasse deles alguma ajuda, alguma assistência, alguma companhia para ir até a polícia, coisas que não tive. Fui atendido por um engomadinho de gel no cabelo que torceu o nariz para mim e minha mochila e quase me pega com a pontinha dos dedos para me jogar no lixo.
De lá, fui à Polícia Turística prestar queixa novamente, já que o policial de Copacabana havia me dito que os procurasse, pois era um crime contra estrangeiro e, de acordo com as regras deles, tinha que ficar registrado lá. Até para sermos roubados, enfrentamos burocracia. Fui muito bem tratado por uma sargento a paisana, simpática, que lamentou o acontecido e pediu desculpas em nome do povo boliviano. Não precisava.
Deixei as coisas num hotel e fui até a rodoviária, para garantir meu lugar no primeiro ônibus da manhã para Cochabamba. Não quis mais passear, fiquei no hotel assistindo Rede Globo internacional - sim, fiquei num hotel melhorzinho, como um prêmio a mim mesmo. Mesmo assim, não consegui dormir bem, estava apreensivo, com medo de não conseguir adiantar o vôo.
Foi uma longa viagem para Cocha. Me incomodava o boliviano com o menino chato no colo, o filme do Schwarzeneger dublado em espanhol na TV, aquela paisagem monótona lá fora. Se pudesse, eu desceria da lata velha e iria a pé mesmo. No que estacionou o ônibus, às 17h00, desci na frente dos outros passageiros, peguei minha mochila e entrei num táxi, direto para o aeroporto. Corri no guichê da Tam e, um banho de água fria, não havia ninguém lá. Perguntei na companhia ao lado e descobri que eles só trabalham no aeroporto até as 14h30. Quase chorei, mas mantive a calma, que não era hora de dar uma de bebezão. Agora eu tinha que ser prático.
Procurei nas minhas anotações e achei o endereço da loja deles, no centro de Cochabamba. Nem que desse com a cara na porta de novo, tinha que tentar, ainda no mesmo dia, resolver tudo. Outro táxi - motorista muito simpático, por sinal, viemos conversando sobre futebol - e, sorte, loja aberta.
Entrei no escritório e perguntei se alguém falava português, o que facilitaria minha vida e a deles. Bingo! Atendeu-me uma moça simpática, que morou dois anos em Curitiba e ficou visivelmente preocupada assim que contei meu caso. Nem pediu maiores explicações, falou com o gerente e já me reservou lugar no próximo vôo. Que alívio! Ainda faltavam algumas formalidades aqui no Brasil, mas o lugar estava garantido.
No dia seguinte, voltei ao escritório da Tam para buscar as passagens. Dei risada da situação quando notei que eles já estavam me esperando. Todos os funcionários já sabiam do meu caso e aguardavam, preocupados, a hora em que eu aparecesse, a moça da recepção já me mandou subir direto na sala da minha amiga curitibana. Pelo visto, causei confusão e fiquei famoso lá. O próprio gerente emitiu e me entregou os tickets, desejando uma boa viagem. Brasil à vista!
Peguei as coisas no hotel e fui para o aeroporto. O papo com o taxista foi tão animado que nem notei quando chegou. Fiz check-in e fiquei esperando o avião, o abençoado avião que me levaria de volta para o Brasil. Lembrei da lição que aprendi, menino pequeno, com a Dorothy, do Mágico de Oz: "não há lugar como o lar". E eu estava voltando para o meu.
Ao levantar o pé para subir o primeiro degrau da escada do avião, pisei pela última vez em solo boliviano e fiz uma prece silenciosa a Deus, meu companheiro inseparável de todas as aventuras. O tempo estava muito nublado, e lá de cima não pude mais ver os Andes.
6 comentários:
aaahhh que triste menino...
Mas o importante que que vc já está de volta e tudo correu bem...
Quero meu ingresso para a sessão viu?! Em que conta eu deposito??? hauahuahuaha
Beijos!!!!
"Estou voltando pra casa (...)"
Bem vindo de volta mestre...
eu vou querer uma sessão exclusiva, com direito àquelas fotos da festinha que vc fez com o Ramón, aquele boliviano forte com a pele dourada de sol...
se eu fosse vc nao tinha men me preocupado: dizem que vaso ruim nao quebra!
Oh Mestre Palma... Como um Hobbit sou forçado a dizer, tá certo que haja comidas diferentes e ótimos hotéis, mas realmente não há lugar como o nosso lar! nada como se recostar novamente na nossa cama macia, tomar nosso café quentinho, bolo gostoso, queijo cremoso e pão torrado... nada como se revitalizar em nossas velhas e boas raízes... Muitas bênçãos pra você, meu amigo, que o homem lá de cima continue sendo sempre seu amigo inseparável.... São os votos desse pequeno e esquecido Hobbit de uma terra tão tão distante...
Dorothy?! Mágico de Óz?! Baita bichisse, hein!!
Mandou tão bem e quando relaxa se entrega?! he he he!
Não se deixe abater pelos reveses, que não verdade, foram preciosas lições de vida e sobrevivência.
Welcome back and go ahead!
e a sessão de fotos???
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