O professor já havia separado os alunos pela sala, carteira sim, carteira não. Ninguém via ninguém. Ninguém conversava com ninguém. Ninguém entrava, ninguém saía. Em seu estado de espírito normal, o Zequinha faria piada comparando a sala com a solitária do Bangu II. Mas o espírito do Zequinha não estava ali, tinha ficado em casa dormindo até mais tarde.
Ele olhou para o professor, que, sentado na sua mesa, lia um livro meio mofado a poucos centímetros da página, o nariz longe do papel só o suficiente para respirar. Os óculos grossos na certa não adiantavam muita coisa. O Zequinha arriscou:
— Professor?
Os óculos nem se mexeram do lugar para responder:
— Hum?
— Posso tirar uma dúvida?
— Só se for sobre alguma parte mal impressa.
O xerox estava horrível mesmo, uma parte já havia sumido depois de o Zequinha apagar umas cinco vezes com a borracha. Mas não era bem este o problema.
— É que eu não me lembro muito bem da fórmula...
— Faz parte do conteúdo. Não posso entregar a prova.
E então agitou o pulso para conferir o relógio, puxou o colarinho da camisa —fora de moda já há uns bons vinte anos— e voltou à leitura outra vez. Protestos da turma, "aahhs" generalizados: os outros alunos resolveram comprar a causa do Zequinha. Alguém chegou a aproveitar-se do anonimato e jogar uma bola de papel que, por sorte, não atingiu o alvo.
O professor largou o volume amarelado e mirou a turma com os olhos apertados: todos em silêncio, com a melhor cara de cachorro caído do caminhão de mudança. A Mi deu uma piscadinha. Então ele acabou cedendo, levantou-se da cadeira, puxou a calça mais para cima da cintura e foi até o quadro. Escreveu a fórmula a giz —uma briga de letras, números e vírgulas— e disse, como quem mostra uma banana ao macaco, a coisa mais natural do mundo:
— Pronto. Agora é só substituir.
Depois arrumou a franjinha engomada com gel —puxada de modo a esconder as entradas no cabelo— e afundou-se no livro de novo, dizendo sem levantar os olhos:
— Ah, sim, vocês têm mais dez minutos.
O problema era que o Zequinha não sabia substituir. Bom, agora fica para a prova de recuperação.
12 comentários:
piada na blogosfera...pra mim (leitora iniciante) novidade...gostei, dá uma relaxada no meio de tanto papo cabeça.
legal.
te visito de vez em quanto tá?
mariah
Pobre Zequinha!!!!
Já passei por isso, sei como é!
Bjs!
rapaz, isto me lembra muito as provas do ronaldo
Colher de chá de professor em dia de prova é inútil mesmo...
Tem uma indicação pra você nas Notas, passe lá pra ver.
Um abraço.
eu tive um professor que dava provas com a fórmula. E não questão de substituição... a coisa era bem feia.
acho que todo mundo tem uma história de desespero em dia de prova. Hoje em dia, a minha alegria é pensar que física e suas fórmulas ficaram pra trás faz um tempinho...
=)
eu sei como ele se sente... mas eu não tenho as fórmulas !
Quem, um dia, precisar trabalhar com isso, o que é difícil, pois em sua maioria trabalhamos com cálculos simples, sempre terá a fórmula a sua disposição.
Agora, se o problema do pobre era não saber substituir... me desculpem, mas é sinal de que esse necessitava sim da recuperação... hehehe um branco é um branco... normalmente sanado com o convencimento do professor de que revele a fórmula. Agora não saber proceder mesmo com a fórmula escrita é pq não prestou atenção em momento algum... Zero pra você Zezinho....
tudo que envolver fórmula é dificil demais!
pode nao ser, mas pelo menos parece...
o/
E zero pra você também Bício...
Porque o personagem é o Zequinha e não Zezinho...
E eu também fico feliz porque a Física e suas fórmulas ficaram pra trás...
Huhauahuahuahauhauhauahuahuahuaua
Ai ai, quase tive uma convulsão aqui...
nossa! "não lembro da fórmula" era uma frase extremamente utilizada no meu segundo grau!
hahahhaa..
bons tempos, aqueles...
Ja passei por uma dessas... horror horror horror
O Zequinha é um Joãozinho, aquele das piadas de e-mails virais, contemporâneo?
Que burro! :)
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