29.8.08

Algodão doce

Território perigoso é o da, digamos..., massa corpórea feminina. Duvido que haja um homem na face da Terra —tirando-se cabelereiros, maquiadores e estilistas— que saiba como lidar com um assunto tão delicado.
     É um belo dia de verão e vocês decidem passear no parque. Sol, céu azul, cachorros e crianças de bicicleta. Tudo corre muito bem até que você, na maior ingenuidade, só querendo ser gentil, oferece um algodão doce, ou uma maçã do amor, ou uma Coca, sei lá. Ficamos com o algodão doce, para o exemplo ficar bem dramático. Ela vai sair com algo do tipo:
     — Comecei regime ontem.
     E, pronto, acabou tudo. Você, meu amigo, acaba de armar para si mesmo uma cilada. Das grandes. Das grandes mesmo.
     O sol se enfia atrás de alguma nuvem preta, o céu acinzenta, o cachorro engasga com a bolinha e as criançada cai das bicicletas. Neste momento você desejará que tivesse nascido surdo. Mas não, você não nasceu surdo: ouviu muito bem e ela te olha, esperando um comentário. Você constrói um diálogo imaginário em sua cabeça. Opção 1:
     — Ah, é? Que legal!
     — Que legal? Que legal? Quer dizer que todo esse tempo você me achava gorda e não dizia nada? Eu sabia: você não me ama do jeito que eu sou. Você tem vergonha de mim! Até regime eu tenho que fazer para ver se você me aceita, seu cachorro!
     Não, melhor não responder assim. Ela estranha seu silêncio, logo você que estava tão falante até cinco segundo atrás. Enquanto o vendedor pergunta se você vai querer mesmo o algodão doce, você constrói um outro diálogo. Segunda opção:
     — Regime pra quê? Você está ótima!
     — Ótima? Eu estou gorda! G-o-r-d-a! Mas pelo visto você quer que continue assim. Sim, porque você se acha o meninão bonitão saradão e eu sou a gorda baranga mocréia. "Olha como ele é bonzinho, levando a gorda para passear..." Você só pensa em você, seu cachorro!
     Antes que ela comece a chorar no seu diálogo imaginário, você parte rápido para outra alternativa. O vendedor está esperando e ela começa a pensar que você talvez seja autista, logo você que estava tão falante dez segundos atrás. Resposta número três:
     — Ah, mas vamos comer um algodão doce, benzinho. Só hoje...
     — Ah, é? Só hoje? E você sabe quantas calorias tem num algodãozinho desses? Sabe? É uma máquina de fazer gordas! Mas você não se preocupa comigo mesmo. Porque eu estou gorda e você nem se incomoda. Mas se a vizinha engordar 50 gramas, você repara. Ah, se repara! Seu cachorro!
     O vendedor já está impaciente. Ela pensa em chamar a APAE, que você deve ser autista mesmo. Já se passaram quinze segundos: é agora ou nunca. Melhor que fosse nunca, mas tem que ser agora. Dezesseis segundos. Só há uma saída: a pela tangente.
     Você aponta para cima e sai correndo, a toda velocidade, atrás do elefante rosa que está caindo do céu lá na outra esquina. Quer dizer, elefante não, que ela vai levar para o lado pessoal: você corre atrás do bando de rinocerontes de pijama de bolinha lá na outra esquina.
     É que, já que você não nasceu surdo, é melhor passar por bobo, que o estrago é menor.

* * *
p.s. decidi republicar esse, enquanto termino uns outros que tenho por aqui.

23 comentários:

R. O. disse...

Realmente você entende o mundo feminino. O legal é que agorinha mesmo, quando estava na rua eu ganhei algodão doce e logo lembrei de que vivo no mundo da dieta eterna... mas dei uma suspirada, e depois de uns 48 segundos decidi comer pela última vez aquele delicioso algodão doce. Afinal, hoje é sexta, dia de uma geladinha e quer saber!??? bahhh começo a dieta eterna na segunda novamente..rsrs

Tb atualizei meu blog..

bjos

nina disse...

Somos um misterio. Somos de fato um doce misterio. alias, acho que esse é o charme, a graça da mulher. Caso contrario, voces do sexo oposto nem se interessariam!

Stephanie disse...

ih Bruno, avisa a esse seu narrador que o negócio são as mulheres 'magras-de-ruim' (que só são ruins mesmo na magreza, mas são legais na vida). Essas comem bem, sem culpa, não engordam e não fazem drama.

acho um saco esse negócio de mulher maníaca por dieta. Aliás, uma coisa que eu adoro nos homens é que eles sabem ser vaidosos e se cuidarem sem neura de peso.

adoro algodão doce. Qualquer dia desse vou te convidar prum rodízio de pizza, tá

beijo

Crispi. disse...

E fez uma ótima escolha de republicar esse, pq me acabei de rir. Me se senti tão mulherzinha lendo isso (e senti pena do meu namorado, eu não sei se me aturaria).
Mas, ah minhas dietas começam na segunda e acabam na terça. Então tudo bem. [?]
Beijos

Eli Kuhnen disse...

puts, Brunoooo, eu me rachei de rir... E é mais ou menos assim mesmo, só que sem tanta neura por dieta... pq eu como bem, e vc sabe...rsrs

bjos Eli

Magnum Opus disse...

É amigo, elas tem as base... e o pior... pijama de bolinha também...

william gomes disse...

Oi.
Estou aqui de passagem mas queria ficar.
Posso add esse blog?
Achei os posts aqui bem interessantes e é tudo aquilo que eu procurava.
Parabéns!

Gabriel Cervi disse...

AHUASUHASHUSAHUSA...ri demais com essa ^^
As vezes pensar demais acaba estragando tudo.

Tyler Bazz disse...

E é beeem assim que as coisas são.


E você, acho que é igual eu. Adora escrever sobre mulheres, mesmo sem entendê-las, nem de longe..

Unknown disse...

Oi amado!
Tô rachando de rir, aqui.
Muito bom, muito bom...kkk
Realmente, o universo feminino é uma "coisa"... vai entender.
Olha a ironia... eu lutando contra tudo e contra todos, pra ganhar 5, 10 kg... e a mulherada se descabelando pra perder 50 gs.
Bom, então eu sou suspeita pra comentar, né...

Beijokinhas carinhosas
*

Lilith disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkk

É isso ai...apontar pro céu e sair correndo foi a melhor! Isso sim é um homem que entende de mulheres!!!kkkk

O problema é alma gorda Bruno...a maldita ALMA GORDA!!!!

Bj imenso

Camila disse...

Mulher é sinonimo de misterio!
Muito bom o conto!

Ps. Quero chá... onde me sirvo?

Beijoooo da Cah

Paulo Bono disse...

é foda. é difícil mesmo.

Eduardo Vilar disse...

hahaha
é nessas horas que eu enfio um arame fundo nos dois ouvidos e falo "desculpa, acho que não te escutei" com as orelhas sangrando.

esse seu último hai cai, muito bom também

abraços!

Mariliza Silva disse...

Deus do Céu!!!

Como damos trabalho pra essas criaturas chamadas HOMENS!!! kkkkkk


Beijão e some não

Mariliza

Lari Bohnenberger disse...

É, nós mulheres somos complicadas, mesmo... sou obrigada a admitir!

Camila. disse...

Também admito, e com bastante sinceridade.

Mas acho que você tem um grande talento para a coisa da escrita, rapaz, um grandiosíssimo talento!

R. O. disse...

Cric cric cric cric cric cric

O grilo anda por aqui ó!

(blog abandonado...rsrs)

Anônimo disse...

hauhauahuaua....isso é o que eu chamo de muito barulho por nada :P

drama drama drama...


Mas ao menos foi divertido e interessante.

Bejo

Marcio Sarge disse...

Esse texto demonstra a habilidade em narrar algo que só um profundo conhecedor das mulheres poderia.
Mesmo isso sendo impossível.

Lais Mouriê disse...

Essas somos nós! rsrs

Jac C. disse...

Olha, eu até pensei em alguma defesa , mas vc minou todas...rs
Vou ter que te dar razão.
Qto ao quesito regime... desta preocupação escapo...rs

Bom fim de semana!

Deiva disse...

Bom texto, mas me incomoda a "brincadeira" com o autismo...