II
— Bonsoir, monsieur! E madame, há quanto tempo!
No dia da reinauguração do bistrô, a senhora L., esposa do chef, fez questão de receber cada um dos convidados na porta. O primeiro a chegar foi o general reformado J., resquícios da pontualidade dos tempos de ativa no exército. Sentou-se, acompanhado da esposa, na sua mesa preferida e mais ordenou que pediu o cardápio.
Os outros não tardaram a chegar. Não só pela ansiedade em que todos estavam, mas porque conheciam a personalidade do chef o suficiente para supor que junto do polido “vinte e duas horas” escrito nos convites devia-se ler, nas entrelinhas, um irritado “nem antes, nem depois”.
O pequenino signor C. mais parecia um acessório, assim como as joias ou o casaco de pele, da extravagante esposa. A rica herdeira M. puxava pela mão um brutamontes com quem fora flagrada pelos fotógrafos numa praia, na semana anterior. A bailarina foi sozinha, na sua beleza etérea e um tanto fria.
Assim, o pequeno salão, até ontem abandonado, foi se enchendo de vida outra vez. Alguns convidados se conheciam dos eventos da sociedade e trocavam acenos de cabeça. O desembargador e o professor de latim juntaram as mesas, eram velhos colegas de faculdade. O crítico literário anotava impressões na sua caderneta. O casal de músicos relembrava, entre goles de vinho, trechos de um prelúdio de Bach.
Alguns sentiram falta do maître da casa, Pierre. Não havia, aliás, nem maître nem garçom. Somente quem servia o salão era senhora L., que anotava os pedidos e indicava as novidades do menu. Ficou, porém, sem reação quando, depois de contarem que hoje era seu aniversário de casamento, o casal K. observou:
— Interessante, hoje faz exatamente um ano que o bistrô fechou. E não teríamos como errar, porque viemos aqui comemorar nosso aniversário no ano passado quando demos com as portas fechadas.
E, a tudo isso, nada de aparecer o chef L. Com certeza preparava uma entrada triunfal, presumiu o cônsul, o mais próximo de um amigo pessoal que o cozinheiro tinha.
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