O Romualdo é um cara normal até certo ponto. E quando digo "até certo ponto" não quero dizer que ele tenha seis dedos - ou quatro, como anda na moda -, fale quíchua fluentemente, soletre de trás para frente o nome de todos os reis da Babilônia ou queira ser faquir na Índia. Na verdade ele é "normal até certo ponto" por causa do azar.
Mas calma lá. Não é só aquele azar de perder o ônibus de vez em quando, nunca ganhar no bingo da igreja e nem ser sorteado em rifa. Azar mesmo, de verdade, como se as coisas todas conspirassem só para aporrinhar o pobre. Como se no fundo, no fundo o universo existisse só para fazer pirraça com o Romualdo.
Quando o Romualdo sai de óculos escuros, chove. Mas se ele sai de guarda-chuva, faz um sol de fazer alegria ao vendedor de picolé. Se o Romualdo paga antecipado, o jogo é adiado pelos cartolas ou o vocalista da banda morre de overdose. E se ele deixa para comprar o ingresso na hora, fica tudo esgotado, não aparece nem cambista, e no dia seguinte o jornal diz que foi o maior show da História.
Foi numa época que ele estava numa depressão brava, depois de ser frustrado na décima primeira tentativa de suicídio, que o Romualdo foi iluminado. Aquela coisa: ele estava no fundo do poço, mas olhou lá para cima e viu as estrelas - antes que o balde lhe caísse na cabeça, claro. Ele não era o último ser do universo. Ele não era insignificante: muito pelo contrário, ele era a peça chave da Criação. O universo existia em função dele, era ele que tinha nas mãos as rédeas invisíveis do destino. Coisa séria.
E então o Romualdo deu a volta por cima, fez uma parceria com a má sorte e começou a ganhar dinheiro. Mandou imprimir panfleto e cartão de visita e investiu na carreira de azarado. Criou um carro personalizado, com utensílios para cobrir qualquer situação: relógios, guarda-chuvas, roupas de todo tipo, agendas, celulares, gel de massagem - não perguntem por quê -, um cachorro pincher e o diabo a quatro. Foi um estouro.
Dona Neca da esquina acabou de pintar a casa e vinha vindo uma nuvem carregada: Romualdo pegava o óculos escuro, botava uma bermuda e ia pro outro lado da cidade: chovia certo. O Silva estava atrasado para pegar as crianças nos colégio: Romualdo vestia o terno, inventava um compromisso executivo urgente e ia para o outro sentido, levando todo o engarrafamento junto. Onde estava Romualdo estavam os problemas.
Ninguém pôde deter: logo Romualdo virou celebridade mundial.
Aos poucos, ele desenvolveu um controle absurdo sobre sua má sorte, o que lhe garantia eficácia quase absoluta quando contratado. E olha que foram muitos contratos.
Agora era ele quem decidia os rumos do Brasileirão, dependendo da camisa de que time vestia. Os americanos, paranóicos com o terrorismo, pagavam-lhe milhares de dólares só para que ele nunca pisasse em solo ianque. Acabou fundando até um instituto internacional de qualidade, mais confiável que qualquer ISO. Porque o produto que agüentasse uma semana de uso do Romualdo, agüentaria qualquer coisa.
E assim nosso amigo fez fortuna. Só não ficou mais rico porque um belo dia quebrou o banco onde ele tinha conta. E era um banco sólido, confiável, um banco suíço! Foi o escândalo monetário do século, o que pare ele deveria ser até previsível. Tinha que ter arranjado um testa de ferro.
4 comentários:
Muito bom... lembra um amigo meu daltônico... heheheh
Manda pra câmara sim... é bem legal...
me elmbrou alguem...será???
:D
Gente fina esse cara !
hauhauahuahaua
Gostei dese cara... estou precisando de um desses pra ver se as coisas começam a melhorar pro meu lado... heheheheh
Feliz Natal menino!!!
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