While I nodded, nearly napping, suddenly there came a tapping,
as of some one gently rapping, rapping at my chamber door.
-The Raven, Edgar A. Poe
I
Foi um antiqüário já velho conhecido que ofereceu ao sr. D. o sino. Um antigo sino dourado, pequeno, liso, sem nenhum ornamento a não ser o suporte por onde ele seria pendurado. Suporte no qual dois pregos enferrujados ainda sujos de reboco denunciavam que ele fora arrancado sem nenhum cuidado da parede do seu último dono. Como a peça o agradara e o preço era justo, acabou sendo somado à coleção do sr. D.
Ele era um homem de vida confortável. Vivia num apartamento grande o suficiente para sua biblioteca e coleção de arte, vastíssimas, mas não grande o suficiente para outra pessoa além dele: havia morado toda a vida sozinho. Era um homem de aparência um pouco excêntrica e aspecto sério, um tanto cinzento. Os vizinhos pouco sabiam a seu respeito, exceto que morava ali há muitos anos, e que fora sempre muito reservado. Tratava a todos com um respeito distante que beirava a frieza. Mas não havia nele nada para que mostrasse que era um homem mau; e, de fato, não o era.
Tornara seu apartamento numa espécie de santuário. Nos pesados móveis de madeira de lei apinhavam-se estatuetas e pequenos objetos antigos, enquanto que as paredes eram cobertas de quadros e gravuras em pesadas molduras douradas. Nas estantes de madeira escura ele mantinha milhares de livros, entre eles algumas edições únicas e obras raras; todos em sisudas encadernações de couro. À tarde, a luz do sol, filtrada pela cortinas sempre fechadas, pintava o lugar de um dourado quase alegre.
Mas a enorme quantidade desses objetos não trazia desordem alguma ao lugar, que era de uma meticulosa ordem e limpeza. Lá dentro tudo era um silêncio quase sagrado, somente quebrado pelo suave badalar das horas no relógio carrilhão.
O sino, que o sr. D agora carregava numa sacola, não tinha mais que o tamanho de um punho fechado, mas carregava em si três séculos de histórias misteriosas desde que, segundo o antiqüário, havia sido retirado de uma capela em ruínas. Mas ao sr. D. somente interessava saber que lhe havia encantado a beleza singela da peça, e nada mais. Era um homem cético, sem nada de supersticioso. Mesmo porque se levasse em conta as histórias fúnebres que cercam estas coisas antigas teria mesmo de jogar fora metade de seus objetos.
Como as mesinhas e consoles já estavam saturados, ele decidiu pendurar o sino na porta de entrada do apartamento, como nos antigos estabelecimentos, onde uma sinetinha simpática saudava os clientes. Algumas batidas na madeira macia e o suporte estava fixado.
Meteu-se o resto da tarde a encontrar um bom lugar para uns ótimos volumes alemães que havia comprado. Mais tarde saiu para jantar e ouviu pela primeira vez, satisfeito, o suave badalar quando puxou a porta. Alegrou-lhe a boa aquisição.
(próximo capítulo)
10 comentários:
MAs eu já li este conto e gostei muito... hehehe... espero que agora o projheto contos de terror vá para a frente....
woowwwwwwww...
terror... vai ser legal... manda brasa ae cara!
t+
esse é bom, mas eu nao lembro se estava dividido em tantas partes...
Amo contos, adoro terror.
Vou voltar pra checar mais :)
Aguardo ansiosa pelos próximos capítulos! Adoro contos de terror!
Cara! Isso está demais...
Abrçs de poeta!
uau!!!!!!
desenvolva...
me deixou curiosa, aflita.. muito bom!!!!
ebaaa! história di terror!
vou buscar a pipoca pra ler o próximo capítulo!
:o
Não perca o próximo capítulo.
Efelis
“Era um homem cético, sem nada de supersticioso.”
Huuuum... Essas são sempre as presas mais fáceis. Ah Bruno, estou apavorada desde já. Vou beber uma água com açúcar para tentar me acalmar.
Outra coisa, sr. D de que hein?
Até breve, O Sino II
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