11.7.07

Diários de um sapo

Não é mais como nos tempos de glória. A verdade é que ser sapo nos dias de hoje, e em especial numa república, é viver sem grandes perspectivas de ascensão social.
     Nasci na época em que ser sapo encerrava uma dignidade, uma nobreza que Marechal Deodoro nenhum poderia derrubar. Éramos príncipes sobre a terra —e também na água, cidadãos do mundo que éramos—, a espera dos lábios doces de uma princesa. Coaxávamos com a firmeza e a elegância dos que sabem seu lugar: os grandes tronos da Humanidade.
     Chamem-me de amargo, blasé, o que quiserem. Hoje os jovens têm vergonha de assumir que um dia tiveram guelras. A mídia lhes enfiou na cabeça que a moda é ser mamífero, ter sangue quente e lutar pelo voto livre. República, democracia, bah!
     Revolta-me ver os grandes amigos, velhos companheiros dos salões da aristocracia venderem-se ao novo sistema. Caíram na armadilha de serem sapos republicanos e deixaram-se beijar por filhas de senadores, de deputados, primeiras-damas. Hoje usam ternos marrons, gravatas de cores apagadas e foram para Brasília. Trabalham em repartições públicas, ocupam cargos de confiança, assinam despachos, recebem propinas.
     E, não bastasse a humilhação, o ar seco de lá não favorece em nada nossa pele de anfíbio.

10 comentários:

Anônimo disse...

Rivalizando com seu Glicério, meu personagem favorito, inauguro uma nova seção no Acepipes: Diários de um sapo.

Ou vocês pensam que é fácil assim ser anfíbio?

Borra Borrão disse...

Até os anfíbios traem o movimento traem o movimento.

Aline Ribeiro disse...

Ei Bruno, de acordo com um estudo feito sobre árvore genealógica, eu sou descendente de uma nobre familia monárquica! rs...
Prefiro os anfíbios, a raça de sangue quente é mto previsível, bando de cachorros correndo atrás da cadela no cio! Prefiro o coaxar dos sapinhos.

E aguardemos as próximas linhas desse diário.

Bjm

HNunes disse...

Realmente o mundo está completamente inundado de sapos que se venderam ao sistema.
Adoro a forma elegante com que praticas a bela crítica social.
Bjos

Anônimo disse...

kkk.. já beijei muito sapo, nenhum virou principe...
Agora tive até que engolir alguns.. veja vc como é a vida..
sede.. ai, ai.

Anônimo disse...

Costumo engolir muito sapo... embora eu ainda não tenha deixado de ser sapo!

World Diverse disse...

Esta afim de uma parceria?
se tiver comenta la...
http://humor999.blogspot.com/

Daniel Avellar disse...

sem querer ser chato, mas Marechal se escreve com letra maiúscula...não é posto, nem cargo e sim título...

Anônimo disse...

Bruno,

Para ser sapo é preciso ter jogo de cintura, apesar dele não possuir uma cintura muito definida.

Já ouvi dizer que se um sapo foi jogado em uma panela de água fria e em seguida colocada p/ esquentar, ele acaba morrendo cozido. Porém se o sapo for jogado em uma panela já quente, ele pula fora de imediato.

Alguns sapos estão se deixando cozinhar e se esquecendo de pular fora das panelas por ai.

Beijo

Juliana Almirante disse...

Talvez seja a respiração.

Esse negócio de pele... já nem conta muito hj em dia.

Foi bom ler o teu coaxar!
Seu blog é fantastico...

Bjin