28.10.09

Carta a ela

Estive pensando sobre esses últimos tempos.
     Sou meio como um viajante no deserto. Viajante que caminhava sem rumo, sofrendo fome e sede, calor e frio, certo de que já não existia nenhum destino, de que não existia mais conforto, doçura. Certo de que o mundo era aquilo: areia estéril e só. Viajante que um dia viu lá na frente um oásis mas que, cansado demais para essas bobagens, não alimentou nenhuma esperança de que a miragem fosse real. Ainda assim, seguiu andando naquela direção. E quando chegou lá, pisou no mais belo lugar que jamais sonhara. No fim da história, ele, que tinha calado dentro de si todos os sonhos, viu-se dentro do mais maravilhoso deles.
     Não quero fazer drama, não quero romantizar as coisas, mas você sabe disso: os meses que passei antes da sua chegada foram tão desoladores que eu não alimentava mais esses sonhos de amar, de ser amado. Não acreditava mais nessas bobagens, não acreditava mais nas pessoas. Não acreditava em mim.
     E então você chegou, e com você a manhã. E numa tarde ensolarada, quando juntei meus fiapos de coragem e ousei sonhar mais uma vez e desafiei a solidão vazia que eu já tinha tomado como destino inevitável, você me disse sim.
     Você chegou para soprar vida nas minhas esperanças mortas.
     E é aqui que venho vivendo, num oásis. A cada dia você me realiza um pedacinho de sonho, a cada dia me faz uma nova surpresa, a cada dia se mostra mais doce, mais luminosa. A cada dia mais adorável, mais amável. A cada dia mais disposta a me fazer esquecer a vida de gato escaldado, de lobo solitário, e aprender a ser amado.
     Agora sei que à noite, quando coloco a cabeça no travesseiro existe alguém pensando em mim, alguém fazendo uma prece para que eu tenha bons sonhos. Todas as noites, antes de dormir, sinto no rosto seu hálito fresco, seu beijo silencioso. E sei que o mundo é melhor só porque você existe nele.
     Seu amor abriu meus olhos.
     De tardinha, quando chego em casa e vejo o por-do-sol sobre o centro da cidade -as vantagens de se morar lá no alto-, é inevitável que não me lembre de você. Ou quando as árvores do caminho estão floridas. Ou quando a lua é bonita e faz céu cheio de estrelas.
     A vida é leve ao seu lado. Você é a metade boa de mim, a parte doce da minha vida, os dias divertidos da minha semana. Você é o lado ensolarado da calçada, o horizonte limpo e iluminado. Você é a rosa sem espinhos, que perfuma sem machucar.
     De uns tempos para cá, você anda incomodada com a cor dos seus cabelos. Sei que, em parte, fui eu que alimentei essa insegurança, por nunca ter dito nada a respeito. Peço, então, duas coisas. Primeiro: desculpe a minha indelicadeza. Segundo: não mude. Estão lindos, da mesma cor dos cabelos da Vênus.
     Você saiu de um quadro do Botticelli para a minha vida. E eu te amo por isso.

* * *
ps. Não, eu não esqueci. Hoje é dia vinte e oito.

11 comentários:

Lubi disse...

fazia um tempão que eu não passava por aqui.
passar hoje foi tão bom.
senti esperança.

um beijo, Bruno.
bom dia 28 pra vocês.
;)

Letícia disse...

É incrível estar com você, compartilhar meus sonhos... eles tem muito mais sentido por você fazer parte deles.

Te amo!

Lari Bohnenberger disse...

Linda declaração!
Bjs!

Cissa disse...

Putz, que texto mais lindo..

Eu tenho uma miragem, e eu queria tanto que ela se tornasse real. mas tanto... =P

e caramba, eu ainda tô chocada com a lindeza do texto.

Yaciara disse...

A doçura do amor nos faz sentir mais leve. Sinta o com toda a intesidade. Parabéns pelo texto.

Julia disse...

Ai!! Lindo, lindo, lindo!!!

Eli Kuhnen disse...

Lindoooooooooooooooo!!!! cunha, você escreve como ninguém!!!

Magnum Opus disse...

Ai, me senti um ogro com minhas poucas cartinhas... preciso melhorar...

Juliana Marchioretto disse...

faz muito tempo que eu não passava por aqui. me emocionei. e sei como é incrível saber que existe um pedaço seu em outro lugar....
feliciades, muitas, pra vcs.
vc merece isso e muito mais.
um beijo.

Stephanie disse...

o problema em se ficar escaldado é quando, diante de uma possibilidade de felicidade a gente hesita.

eu fico feliz que você tenha se arriscado e acertado. Torço pela felicidade de vocês.

oh, e você quando resolve escrever cartas no blog, que coisa, hein - pega logo pela emoção.

beijos!

ps. um dia eu te conto porque é tão dificil escolher um livro que tem uma mensagem dentro igual uma daquelas garrafinhas de náufrago boiando no oceano.

Elga Arantes disse...

Lindo!!