Uma historinha de amor entre amantes da Literatura. Nada de mais, deve acontecer por aí o tempo todo.
Fim de noite, sexta-feira, a cidade já está quase vazia. Um cara está sentado no metrô –vou contar a história com metrô porque é mais charmoso, mas pode ser no ônibus, na lotação, na perua escolar, sei lá–, cansado depois de um dia de trabalho. Almoçou mal, correu o dia inteiro, teve que ficar na hora extra e perdeu o happy hour com os amigos, essas coisas. Os passageiros em volta deviam ter passado por um dia igual, o vagão todo estava meio apagado.
Aí então o vagão se ilumina. O vagão se ilumina e não foi porque uma lâmpada preguiçosa que estava apagada decidiu acender, foi porque uma garota acabou de entrar. Bonita na medida, bem vestida, charmosa, com um meio sorriso e uma bolsa colorida de bolinhas. Ela –destino, destino– decide sentar-se ali, de frente para ele.
Então, a garota abre a bolsa e...
Versão analógica
... tira um livro lá de dentro. Nosso amigo reconhece as cores, a foto, o título. A sorte acaba de sorrir para ele: os dois estão lendo o mesmo livro.
Ele procura rápido na mochila e saca o livro também, faz questão de segurar de um jeito que todos possam ver a capa. A garota levanta os olhos, curiosa, para ver o que ele está lendo e... Bingo! O meio sorriso vira um sorriso inteiro. É a deixa.
Os dois conversam, ele troca para o banco dela, acaba descendo uma estação antes só para acompanhá-la até em casa. No dia seguinte foram à livraria ver as novidades, passaram o fim de semana juntos e o resto vocês já sabem: acabaram juntando as bibliotecas e vivendo felizes para sempre.
Versão digital
... tira um Kindle lá de dentro. Ela está lendo o mesmo livro que ele, mas nosso amigo não tem como saber: só vê a parte de trás do aparelhinho.
Sem saber como puxar papo, ele saca da mochila o iPad, para passar o tempo. A garota levanta os olhos, curiosa, para ver o que ele está lendo e... Só vê uma estampa de maçã. O meio sorriso continua meio. Nada de deixas.
Não conversam. Ela desce numa estação, ele fica na seguinte. No dia seguinte, cada um baixou um livro novo, cada um na sua casa, e o resto vocês já sabem: passaram o fim de semana na Internet. Além do mais, nem daria para juntar as bibliotecas mesmo, porque tem arquivo que nem é compatível.
16 comentários:
Antes de eu saber o final, já tinha decidido que preferia a versão analógica.
convenhamos que essa versão digital só é possível em lugares seguros etc, porque numa boa, quem neste Rio-selvagem-de-Janeiro teria coragem de andar com seu kindle no metrô??
eu não teria. Fora que, sei lá, ladrão só levra livro qdo carrega a bolsa com tudo. Meu ipad/kindle iria para facinho no mercado negro. (e com vário livros na memória! que absurdo!)
fora que a vida ficaria um pouco mais sem graça sem capas bonitas e coloridas pra distrair a vista.
adorei!
beijos
Maldita tecnologia! Ainda não conheci o amor da minha vida por causa dela!
não sei se a ambientação dá mesmo pra mudar... se fosse na lotação quem ia conseguir esticar o olho e ver o livro alheio?
Mais criatividade em tempos mais digitais... é preciso, parece.
Engraçado, falei sobre metrô, no texto que escrevi ontem. Coincidência digital? Virtual? Será que estamos lendo o mesmo livro? rsrs...
Grande sacada...
eu estava conversando sobre esse assunto nao faz nem dois dias. ahaha
modernidades a parte, livros serão sempre livros...
texto muito bem pensado.
Sensacional!!
Livros serão sempre livros...
Adoráveis e necessários.
Valeu.
eu nao consigo ler num kindle. tentei, e o mais frustrante 'e nao virar a pagina. ou no final do dia voce pega o livro e ve a pagina que voce estava e a pagina que voce esta e segura o tanto de paginas que leu s'o porque voce pode. fiz sentido?
Será que eu serei o montador de fotolitos do futuro ou as pessoas vão preferir a versão analógica da história e assim prolongar minha profissão de capista?
Muito criativo seu texto. Livros em sua constituição normal são bem mais interessantes. Seu texto me fez ver mais um motivo porque eu não gostaria de ter um Kindle, já não era muito simpática da causa, agora então.
Era digital o que for, não troco livro de papel por nada.
Muito bom!!!
O mundo digital ainda fará com que as pessoas nem saiam de casa. Hum, isso dá uma história... vou escrever.
Inteligente e divertido!
Adorei!
podem até me chamar de babaca antiquado, mas eu sou romântico demais pra comprar um kindle.
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