Fazia semanas que o Amarildo estava querendo fazer isso. Meses, se bobear. Por isso, antes de apagar a luz para dormir, ele decidiu que amanhã finalmente seria o dia. Ponto.
* * *
Amanhã virou hoje e hoje, como decidido, era o dia.
Como já sabia que enrolava na cama, o despertador tocava às cinco e quarenta, para levantar às seis. Ainda assim, seis acabava virando seis e pouco, seis e meia. Dava que que, quase sempre, o dia começava já atrasado. Mas hoje não.
Porque hoje, hoje era o dia, e o Amarildo despertou assim que ouviu o celular –alguém ainda usa despertador?– chamar. Às cinco e quarenta da manhã começou com o plano: saiu de baixo das cobertas, espreguiçou esticou bocejou coçou os olhos. Fez até umas flexões. Em seguida, foi para a cozinha, onde começou a preparar um café da manhã caprichado.
Como quase sempre ficava na cama mais do que devia, quase sempre só engolia o que desse tempo. Só que hoje, hoje era o dia, e Amarildo fez tudo como manda o figurino. Preparou o pão com queijo e ligou a sanduicheira, passou café, separou uma maçã, serviu um pouco de cereal na tigela, jogou mel e leite por cima. Sentou-se à mesa posta e comeu com calma, como deveria fazer sempre.
Como quase sempre o tempo já estava estourando, ele ou deixava a barba por fazer, ou tomava um banho rápido daqueles como quando era moleque ou largava o cabelo de qualquer jeito. Só que hoje, hoje era o dia, então Amarildo foi ao banheiro, fez a barba, tomou banho, arrumou bem o cabelo.
Quase sempre também só ia vestindo o que estivesse por cima da gaveta ou já estivesse desde a noite anterior largado em cima da cadeira. Só que hoje, o dia, Amarildo separou a roupa cuidadosamente. Cueca, meias, calça, camisa, blusa, jaqueta, cachecol. Escolheu peça por peça, fez até combinação. Colocou o crachá.
O dia começou perfeito, como deveria ser. Porque hoje era o dia, e ele vinha planejando isso há semanas. Meses, se bobear.
E então, café tomado, aparência cuidada, roupas vestidas, crachá no peito, Amarildo deitou na cama de novo, puxou as cobertas bem para cima, sentiu o cobertor ainda quentinho, deu um sorriso satisfeito e dormiu até depois do meio-dia. Hoje era o dia, e ele queria só ter o gostinho de voltar para a cama. Saber uma vez na vida qual era a sensação de voltar para a cama. De mandar tudo para o inferno e voltar para a cama numa segunda-feira.
(Hoje era feriado, porque o Amarildo não era tão corajoso assim.)
Foi o sono mais gostoso que ele já dormiu.
8 comentários:
Amei :)
Me coloquei no lugar dele... rsrs
Meus horários e minha rotina é bem parecida com a dele... e pensei se eu teria coragem de fazer o que ele fez (mesmo num feriado)... acho que não teria.
Muito legal.
Bjão e um ótimo começo de semana.
Tá mais que certo o Amarildo! Só que quando é feriado deu 6 horas e eu já to acordado!!
Oi Bruno! Tudo bem?
Eu nuca comentei aqui, acho que por timidez, mas já li e reli todos os textos do seu blog, que eu adoro! Sou fã mesmo!
E pra não variar, adorei esse texto também.
Pensei de tudo, que o Amarildo ia pedir alguém em casamento, que ele ia começar num emprego novo, menos que ele fosse voltar pra cama, hehe!
Muito bom!
Hahaha, é realmente uma coisa boa! Eu deixo o despertador ligado, pra ter o gostinho de desligar e voltar a dormir. Mas levantar e fazer tudo pra depois voltar a dormir eu n faço de jeito nenhum hahaha.
Beijoss
Ah, porra, faço isso direto.
Férias, feriado, o que for, acordo, dou uma geral e volto pra cama. Penso no trabalho, e foda-se.
abraço, Bruno
Ahahahahahahahahah!
ótimo! Nunca fiz isso, feriados eu prefira ficar na cama direto!
Mas que deve ser bom, ah, isso deve!
Bjs!
mas mesmo assim, voltar pra cama já é muito bom! XD
Boa! Mas ele devia ter tirado a roupa, para ficar mais confortável.
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