Foi que a Marcinha, decidida a deixar de ser a encalhada da família, resolveu dar uma folga nas novenas para Santo Antônio e apelar para a internet, laica mesmo.
Acessou um desses sites de solteiros e investiu uma tarde selecionando candidatos —homem, 20 a 30 anos, sem filhos, não fumante— e enviando mensagens. Alguém haveria de se interessar. Alguém, meu santo Antônio!
Recebeu resposta quase na mesma hora de um tal "principencantado26". Era seu dia de sorte: o príncipe estava de prontidão só esperando o grito da donzela Marcinha para resgatá-la do alto da sua torre.
Trocaram endereços, adicionaram-se, partiram para a conversa online. Sujeito simpático, agradável. Tinha senso de humor, escrevia direitinho, não atropelava as respostas dela.
Aí é que veio a trágica pergunta, a fatídica "como você é?". Inocente Marcinha, que pensou por um momento que conseguiria se safar dessa, fugir da ditadura do corpo perfeito, cabelo liso, boca sexy e tudo o mais. Claro, pensou ela, que um principencantado26 procurava, no mínimo, uma princesasemestrias22.
E então a Marcinha respondeu. Aumentou uns cinco —mentira, foi quase dez— centímetros na altura e diminuiu uns dez —mentira, foi quase quinze— quilos no peso. Alisou o cabelo e caprichou na produção.
Ao que tudo indicou, o pretendente pegou fogo do lado de lá, leu na tela do computador exatamente o que queria ler. Falou pouco sobre ele, parecia envergonhado, o que a Marcinha achou até bom. Mas achou melhor ainda o peito largo e o abdômen definido.
Madrugada adentro, a conversa correu muito bem. Os dois pareciam ter os mesmos gostos para música —Deus me livre o Latino!—, liam alguma coisinha de vez em quando, não eram muito de lugares badalados, assistiram o último desenho da Disney e odiavam morder aqueles cravos no meio do arroz doce.
Claro que não podia dar em outra: o principencantado caiu de amores pela nossa Marcinha e propôs um encontro. Coisinha descontraída: um suco no shopping, talvez. Amanhã, umas três, três e meia? Combinado? Combinado. Boa noite, durma bem.
Mas acabou que, no fim das contas, a Marcinha acabou não indo ao encontro. O que iria dizer ao seu príncipe? Que não tinha a cintura igual à da Gisele coisa nenhuma mas que, veja bem, a parte de calçar 36 era verdade? Ficou em casa e curou a frustração com uma comédia romântica e uma barra de chocolate com amendoim.
E ainda bem que não foi, porque, do outro lado da conexão, o Eduardo já havia decidido que era melhor nem aparecer no shopping mesmo. Uma mulher dessas era areia demais pro seu caminhãozinho. E também como diria para ela que a parte dos bíceps não era bem assim?
Olha, teriam sido um belo casal, viu?
* * *
Estou me autoplagiando. Este eu escrevi para o Depósito de idéias uns dias atrás...
15 comentários:
O negócio é viver a vida real! Essa sim é confiável!
é.... me lembrou coisas de um passado distantes, de um certo pessoal que ficava na net procurando confusão....
se bem que pode ser o futuro de uns amigos meus...
ah, só para constar... achei que a Marcinha fosse parente do Glicério... sobrinha, sei lá
gordocarecalascador30 procura.
rsrs. bacana, meu velho.
abraço
Ah, dariam mesmo! Pena não se terem encontrado, menino...
Muito bom texto. É essa a realidade agora, não? Se bem que, a essa altura, se não coloca foto, o povo não se interessa mais.
É como uma camiseta que eu vi esses dias na internet -e tou louco pra fazer uma-: "I'm a 15 yearr-old girl on internet"...
Mas o orkut tá tirando toda a graça de conhecer pessoas pela internet. (mentira :D)
o/
É!
Internet é isso aí!
Se quer viver uma fantasia on-line, beleza! Mas na vida real as coisas são um pouquinho diferentes, não?
Bjs!
sou ortodoxo, prefiro do jeito tradicional mesmo... pelo menos das estrias e pelancas a gente se safa de primeira!
Taí o porquê a internet é perigosa. As pessoas se cultuam o ego.
Diante de uma tela cada um é o que gostaria de ser, mas fora dela, com pessoas de carne e osso ( mais carne do que osso) o bicho pega.
Gostei do blog.
Abraço
Hmmm... Desconfortavelmente familiar, rs.
Autoplágio? Prefiro chamar de reciclagem de idéias!
;)
E está chegando o dia de Santo Antonio!!!!
Adorei o conto!
Bjao!
Mas... como descobriu? Sim, sou o Eduardo e, sei... perdi, perdi...
hehehe Muito bom!
Abraço
cara, vc me assustou com certas coincidências filhas da p*ta desse post. que medo. que medo.
que medo.
O que queimou o trem foi o suco... no shopping...
Gostei.
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