(Clique aqui para ler a outra parte da história.)
Foi um momento de fraqueza, admito, depois de quase quatro horas de pé no sol, no meio do gramado do Morumbi, sem comida ou banheiro, aguentando empurra-empurra, marofa de maconha e cretinices em geral. Peguei o celular e mandei uma mensagem para um sujeito que eu sabia que estava lá em cima, tranquilão, nas cadeiras.
Foi um momento de fraqueza. "Never tell anyone outside the Family what you are thinking again", diria o Don Corleone.
Porque não deu nem dois minutos, senti o celular vibrando no bolso, tinha chegando mensagem. Duas palavras só:
— Chupa, pista!
Pronto. Eu nem tinha visto ainda –sabia só que ele estava lá em cima em algum lugar, ao lado da única mulher de azul cobalto do estádio–, mas sabia que estava lidando com o Rob Gordon, o legítimo. "Chupa, pista" só poderia ser coisa dele, ninguém mais na face da Terra responderia assim.
E esse foi meu primeiro contato com Rob Gordon, o cara do Championship Vinyl: trocando insultos via SMS num estádio lotado antes do show do Metallica. Nada mau, eu diria.
— E você tá aí em cima fazendo ôla? Que bicha.
Aí o Metallica entrou no palco. Aquela história.
Um parênteses: antes disso, eu já tinha combinado de encontrar sr. e sra. Gordon no shopping. Não deu. Depois, na entrada do show; não deu. Eu, que me gabo de ser o tipo de cara que recebe ligação convidando pra uma cerveja, responde "só se for agora", levanta e vai, estava me sentindo mal com a situação. O Rob vai pensar que eu sou um fresquinho enrolado, pô! Fecha parênteses.
Depois de uma fila desesperante –show é como faculdade: depois de um tempo, você descobre que entrar foi a parte fácil, e que o difícil vai ser sair–, informações erradas, eu querendo matar um e umas cinco voltas ao redor do estádio, achamos o Rob. Exatamente como eu imaginava: careca, baixinho e gente boa. Gente boa de primeiríssima qualidade. No minuto seguinte, já éramos velhos amigos.
A aventura no táxi talvez merecesse um post à parte. Quatro marmanjos apertados no banco de trás, motorista míope sem óculos, uma série de manobras ousadas, buzinada da polícia de choque, essas coisas. Mas eu estava com o Rob Gordon, não esperava menos.
Decidimos comer alguma coisa. O McDonald's parecia cena de filme do Hitchcock, tomado por uma revoada de corvos pretos –metade dos caras do show decidiram engolir um Big Mac– e o Rob acionou um plano B: Habib's. Lá fomos nós. Boa escolha.
"Boa escolha" não porque eu seja chegado numa esfiha –logo, logo aparecem nos comentários alguma piada com kibe, querem apostar?–; "boa escolha" porque não teria lugar melhor para se divertir. Eram duas da madrugada, e qualquer pessoa com um pouco mais de sensatez desliga a tevê num horário desses. Mas o gerente da loja não era um cara sensato e a gente ficou lá, vendo uns estranhos montarem cubo mágico e tocarem qualquer porcariazinha emo. Fora que o garçom –Diego Tardelli, só que de avental– fez confusão com nosso pedido, meu amigo inventou alguma coisa com a promoção de chope que estava além das minhas capacidades matemáticas –algo tipo "eu pago um, você me traz cinco, aí ele pede outro e fica tudo beleza"–, a moça do caixa pensou que estava sendo enganada quando começamos a pegar troco uns dos outros antes de pagar para ela, essas coisas. Eu estava com o Rob Gordon, não esperava menos.
No dia seguinte, fiquei esperando o Rob e, depois de ter visto duas batidas de carro na mesma esquina em menos de dez minutos, soube que ele estava vindo. Dito e feito: vi uma camiseta do Metallica subindo a Teodoro –não sei se foi para me agradar, mas ele estava com uma camiseta do Metallica. Notei que o Rob é como eu: encara a livraria com a mesma naturalidade de quem anda no quintal de casa. Conhece as prateleiras, sabe onde estão os leitores de código de barra, qual coleção é melhor, que editora está lançando o quê, até arruma um ou outro livro –mas só os autores que eu gosto– fora do lugar.
Não é para ironizar com o tamanho dele, não, mas o Rob é o que eu chamo de um grande sujeito. Anos atrás, quando comecei o Acepipes, o Championship estava no começo também. Eu fui um dos primeiros leitores de lá, e ele foi um dos primeiros daqui. Nos despedimos, eu prometi avisar com mais antecedência quando voltasse a São Paulo e subi no metrô. Desci no Tietê, comprei a passagem para um ônibus que saía dali dois minutos.
Eu sou o tipo de cara sentimental que escreve coisas do tipo "cheguei trazendo na bagagem um show memorável, um livro do 007 e uma nova grande amizade". Enfim.
Grande sujeito.
ps. Rob, da próxima vez tem Degas.
8 comentários:
o rob escreveu no champs, que uma das coisas boas de ter um blog era ter amizades em varios lugares do país, foi algo mais ou menos assim, agora não recordo exatamente.
bom, a amizade de voces promete, aqui no acepipes e lá no champs, e eu vou acompanhar daqui, da tela do computador! =)
Sério,
Eu não acredito que esqueci as buzinadas do camburão. Merda!!
E eu lembrei também do Fresno (ou do NX Zero) na TV do Habib's, mas não coloquei de propósito, para não emporcalhar o post.
Bruno, sério: não demore a voltar. Degas nos aguarda.
E Sra Gordon manda beijos.
Já to avisando, se vc e o Rob estiverem no Degas, eu me convido a ir. =D
Porra, ninguém me convida pra ir no Degas, não????
Degas... Carne... Ta decidido, quando for a São Paulo vou no Degas nem que seja sozinho...
Degas! Degas! Degas!
(Houston! Houston! Houston! - Rollerball mode: ON)
Me esqueci, a Isadora tem de ser presença confirmada no DCR (Degas Cai na rede)
(puxa-saco mode: ON and ON)
hehe... leitura prazerosa, como de praxe.
Postar um comentário