20.8.07

O escultor

IV
(partes anteriores: I, II e III)

"Deus, homem, você está ferido!", exclamou o padre J. largando o breviário quando o escultor entrou, noite escura, pela porta da rua. A mão esquerda, atada numa manga arrancada da camisa, estava empapada de sangue meio seco. O padre buscou água e panos limpos. Lavou a ferida e não pôde deixar de observar que parecia uma mordida. Uma mordida humana que rasgara a pele até quase os tendões.
     Depois de ter tomado outro gole da cachaça que o padre lhe servira, o homem limitou-se a dizer que um alguém o atacara quando passava numa rua escura. Houve uma luta e o agressor fugiu, só um vulto escuro. O padre andava de um lado para o outro, aflito, e dava graças a Deus: seu artista escapara por pouco. E que os santos tivessem piedade da alma atormentada deste escravo assassino.
     Depois de limpa a ferida, recuperada a calma fria de sempre, o escultor disse que não tinha tempo a perder e foi à igreja, onde dedicou-se noite adentro à sua obra.
     Mas naquela madrugada houve choro na senzala: o capitão-do-mato encontrou um corpo de negro, o escravo desaparecido. Estava morto já há uns cinco dias e uma punhalada no coração dizia que, longe de ser o assassino, ele fora outra vítima.
     E, na manhã seguinte, a lavadeira gritou quando, saindo do cortiço, numa viela apertada e escura, deu com o um cadáver ensagüentado. O sétimo.

7 comentários:

Adrian Masella disse...

Cara, eu sei que suspense é deixar o leitor com "gostinho de quero mais" mas você ta apelando já. É crueldade isso!!!!

MM disse...

Gostei do Blog, parabéns

Paulo Bono disse...

mas sangue. sobe a trilha. o que parece ser pode não ser. tá ótimo. keep walking.
grande abraço

Anônimo disse...

meu... isto que é uma sequência que vale a pena! :)

Anônimo disse...

Filho vc me fez roer uma unha, sabe quanto tempo eu demorei entre parar com o vício e deixar ela crescer??? afff
Mas está cada dia mais digna de uma filme essa história..

Professor disse...

diz a verdade: vc não tem nem idéia de como vai terminar esta história!?

Anônimo disse...

Sei, sim. Vocês é que não sabem :P