Queria escrever
minha vida num haicai
(e acho que não deu...)
23.4.08
Vida internética
Férias, sabem como é. A gente resolve arrumar umas coisas, limpar outras tantas, jogar uma ou outra fora. Numa dessas, resolvi voltar à ativa no Acepipes fotográficos. E vamos nós!
* * *
E, já que estou no embalo, comecei uma conta no Twitter. Já me rendi ao Blogger, ao Orkut, ao Facebook, ao Last.fm, ao FlickR, ao Fotolog... que mal pode fazer? Diria o grande Chacrinha que "quem não comunica, se trumbica".
* * *
E, já que estou no embalo, comecei uma conta no Twitter. Já me rendi ao Blogger, ao Orkut, ao Facebook, ao Last.fm, ao FlickR, ao Fotolog... que mal pode fazer? Diria o grande Chacrinha que "quem não comunica, se trumbica".
16.4.08
Café
— Eu só queria saber qual é o tipo de cretino que larga o jornal em frangalhos desse jeito...
E eis que damos com nosso grande herói, seu Glicério, resmungando baixinho enquanto tentava remontar os cadernos do jornal do dia. Homem de raízes, ele prefere tomar o cafezinho preto passado no coador de pano da padaria do Manoel, mas quando a dona Eulália inventa de ser moderna, arrasta o pobre para um desses cafés da moda. É um suplício.
— Ai, Glicério, não sei se peço um espressetto afogatto doppio, um moccha gelatto lemone ou provo outra coisa diferente.
— Eu quero um café. Será que eles têm?
Até essa parte de fazer o pedido tudo bem, a pressão dele, comportada, não passa dos dezoito. O pior mesmo para o nosso amigo é ter de ouvir os pedidos dos outros: seu Glicério sofre ouvindo os caprichos da nova geração. Uma mocinha pede:
— Eu quero um capuccino. Mas sem creme nem chocolate.
E nosso amigo, sem tirar os olhos do bendito jornal:
— Alguém avisa a menina que "capuccino sem creme nem chocolate" é café com leite?
E um rapaz, meio suspeito:
— Eu vou querer um café com leite. Com bastante leite e só um pouquinho de café descafeinado, por favor.
— E será que alguém pode ensinar o donzelo que "café com leite com bastante leite e só um pouquinho de café descafeinado" é leitinho morno de mamadeira de neném?
Dona Eulália morre de vergonha enquanto desliza os dedos pelo cardápio de papel reciclado, ainda indecisa sobre o que vai querer. Acabou escolhendo um nome italiano que achou simpático e uma torta que, segundo nosso amigo, bem poderia ser emoldurada e pendurada na parede. Seu Glicério tentava abrir o caderno de esportes na mesinha apertada, bufando já, e dona Eulália puxou uma Caras. Ficou horrorizada com o sexto casamento de uma atriz —mas encantada pelo vestido da noiva—, que essa juventude não tem mais noção de amor, meu Deus.
Pedem a conta e, aí sim, a pressão entra em erupção. Dona Eulália, como sempre, sabe que essa é a hora de entrar em cena e tira a carteira de bolinhas vermelhas de dentro da bolsa. Hoje é por conta da aposentadoria de professora. Seu Glicério sai arrastando os chinelos pela calçada —pois é, ela não o convenceu a usar aquele sapatênis que ganhou da Marcinha no Natal— e conseguiu um palito de dente para mastigar:
— Da próxima vez eu trago o jornal de casa. Isso se não trouxer a garrafa térmica com café de verdade.
E eis que damos com nosso grande herói, seu Glicério, resmungando baixinho enquanto tentava remontar os cadernos do jornal do dia. Homem de raízes, ele prefere tomar o cafezinho preto passado no coador de pano da padaria do Manoel, mas quando a dona Eulália inventa de ser moderna, arrasta o pobre para um desses cafés da moda. É um suplício.
— Ai, Glicério, não sei se peço um espressetto afogatto doppio, um moccha gelatto lemone ou provo outra coisa diferente.
— Eu quero um café. Será que eles têm?
Até essa parte de fazer o pedido tudo bem, a pressão dele, comportada, não passa dos dezoito. O pior mesmo para o nosso amigo é ter de ouvir os pedidos dos outros: seu Glicério sofre ouvindo os caprichos da nova geração. Uma mocinha pede:
— Eu quero um capuccino. Mas sem creme nem chocolate.
E nosso amigo, sem tirar os olhos do bendito jornal:
— Alguém avisa a menina que "capuccino sem creme nem chocolate" é café com leite?
E um rapaz, meio suspeito:
— Eu vou querer um café com leite. Com bastante leite e só um pouquinho de café descafeinado, por favor.
— E será que alguém pode ensinar o donzelo que "café com leite com bastante leite e só um pouquinho de café descafeinado" é leitinho morno de mamadeira de neném?
Dona Eulália morre de vergonha enquanto desliza os dedos pelo cardápio de papel reciclado, ainda indecisa sobre o que vai querer. Acabou escolhendo um nome italiano que achou simpático e uma torta que, segundo nosso amigo, bem poderia ser emoldurada e pendurada na parede. Seu Glicério tentava abrir o caderno de esportes na mesinha apertada, bufando já, e dona Eulália puxou uma Caras. Ficou horrorizada com o sexto casamento de uma atriz —mas encantada pelo vestido da noiva—, que essa juventude não tem mais noção de amor, meu Deus.
Pedem a conta e, aí sim, a pressão entra em erupção. Dona Eulália, como sempre, sabe que essa é a hora de entrar em cena e tira a carteira de bolinhas vermelhas de dentro da bolsa. Hoje é por conta da aposentadoria de professora. Seu Glicério sai arrastando os chinelos pela calçada —pois é, ela não o convenceu a usar aquele sapatênis que ganhou da Marcinha no Natal— e conseguiu um palito de dente para mastigar:
— Da próxima vez eu trago o jornal de casa. Isso se não trouxer a garrafa térmica com café de verdade.
11.4.08
Matilde
A Matilde era famosa no condomínio. Não pelos motivos comuns de fama em condomínios, do tipo ser a síndica que cuida da vida de todo mundo, a solteirona dona de dezessete gatos ou a nova siliconada do pedaço. Era famosa porque cantava no chuveiro.
A engenharia do prédio ajudava: as janelas dos banheiros davam todas para um fosso central, que ainda que fosse projetado por um técnico em som não teria uma acústica tão perfeita. E a Matilde cantava de tudo —talvez aí estivesse o segredo do seu sucesso condominial—, desde os clássicos dos programas de calouros:
— Os sonhos mais lindos sonhei, de quimeras mil um castelo ergui...
Até os sucessos do momento:
— Abalou, abalou, sacudiu, balançou, coração é só felicidade...
E atacava também em inglês, pop:
— Like a virgin, touched by the very first time...
E francês, romântica:
— Non, rien de rien, non, je non regrette rien...
Aos domingos, quando voltava da missa, o repertório era religioso:
— Segura na mão de Deus, segura na mão de Deus, segura na mão de Deus e vai...
E em épocas especiais, relembrava das temáticas:
— Papai Noel, vê se você tem a felicidade pra você me dar...
A voz da Matilde subia desde o terceiro andar, cristalina, agradando os ouvidos de todo mundo —até o seu Glicério gostava. Corria nos elevadores a piadinha de converter uma parte da taxa de condomínio em couvert artístico para ela.
Coincidência do destino, um dia mudou para o apartamento de cima um produtor musical e, belo dia, calhou de o homem tomar banho na mesma hora que a Matilde. A voz subiu, poderosa, pelo fosso:
— Como uma deusa, você me mantém...
O produtor ficou arrepiado. A dona daquela voz era a revelação do ano! Desceu, enrolado em toalhas mesmo, para ajoelhar-se diante da porta do 305. Implorou que ela fosse com ele, no mesmo dia, para o estúdio.
Chegando lá, a secretária, avisada por telefone da nova cantora que chegaria, já tinha tudo preparado. Receberam a Matilde com flores —tudo para agradar um novo artista nessa época de MP3 e recessão das gravadoras. Foi apresentada a toda a equipe e, o produtor estava ansiosíssimo, carregada direto para o estúdio.
Foi um desastre.
A voz não saiu, não tinha afinação, tempo, nada. A interpretação não tinha sentimento nenhum, nem o timbre parecia o mesmo. Colocassem um gato para miar, o resultado seria melhor. A Matilde voltou para casa arrasada.
O produtor chegou a duvidar que fosse ela mesmo que estava cantando horas atrás. Mas, no dia seguinte, lá estava a mesma voz —"é pau, é pedra, é o fim do caminho..."—, vinda da janelinha do banheiro da Matilde. E no outro, e no outro, e em todos os outros. Tentaram de novo, talvez fosse só nervosismo, mas no estúdio que é bom, nada de ela cantar.
Depois de várias tentativas, um estagiário teve a idéia luminosa: encontraram uma solução, mas os técnicos de som tiveram que se virar para tirar da gravação o barulho do chuveiro que fora improvisado em pleno estúdio. Aí sim, debaixo da água morninha, a Matilde cantou, e como cantou. De roupa de banho, claro, que ela é moça de família.
E, como não podia deixar de ser nesse caso, o disco vendeu como água. A correria agora é dos apresentadores de programa de televisão, todos instalando chuveiros no palco para receber nossa Matilde, a voz dos banheiros do Brasil.
A engenharia do prédio ajudava: as janelas dos banheiros davam todas para um fosso central, que ainda que fosse projetado por um técnico em som não teria uma acústica tão perfeita. E a Matilde cantava de tudo —talvez aí estivesse o segredo do seu sucesso condominial—, desde os clássicos dos programas de calouros:
— Os sonhos mais lindos sonhei, de quimeras mil um castelo ergui...
Até os sucessos do momento:
— Abalou, abalou, sacudiu, balançou, coração é só felicidade...
E atacava também em inglês, pop:
— Like a virgin, touched by the very first time...
E francês, romântica:
— Non, rien de rien, non, je non regrette rien...
Aos domingos, quando voltava da missa, o repertório era religioso:
— Segura na mão de Deus, segura na mão de Deus, segura na mão de Deus e vai...
E em épocas especiais, relembrava das temáticas:
— Papai Noel, vê se você tem a felicidade pra você me dar...
A voz da Matilde subia desde o terceiro andar, cristalina, agradando os ouvidos de todo mundo —até o seu Glicério gostava. Corria nos elevadores a piadinha de converter uma parte da taxa de condomínio em couvert artístico para ela.
Coincidência do destino, um dia mudou para o apartamento de cima um produtor musical e, belo dia, calhou de o homem tomar banho na mesma hora que a Matilde. A voz subiu, poderosa, pelo fosso:
— Como uma deusa, você me mantém...
O produtor ficou arrepiado. A dona daquela voz era a revelação do ano! Desceu, enrolado em toalhas mesmo, para ajoelhar-se diante da porta do 305. Implorou que ela fosse com ele, no mesmo dia, para o estúdio.
Chegando lá, a secretária, avisada por telefone da nova cantora que chegaria, já tinha tudo preparado. Receberam a Matilde com flores —tudo para agradar um novo artista nessa época de MP3 e recessão das gravadoras. Foi apresentada a toda a equipe e, o produtor estava ansiosíssimo, carregada direto para o estúdio.
Foi um desastre.
A voz não saiu, não tinha afinação, tempo, nada. A interpretação não tinha sentimento nenhum, nem o timbre parecia o mesmo. Colocassem um gato para miar, o resultado seria melhor. A Matilde voltou para casa arrasada.
O produtor chegou a duvidar que fosse ela mesmo que estava cantando horas atrás. Mas, no dia seguinte, lá estava a mesma voz —"é pau, é pedra, é o fim do caminho..."—, vinda da janelinha do banheiro da Matilde. E no outro, e no outro, e em todos os outros. Tentaram de novo, talvez fosse só nervosismo, mas no estúdio que é bom, nada de ela cantar.
Depois de várias tentativas, um estagiário teve a idéia luminosa: encontraram uma solução, mas os técnicos de som tiveram que se virar para tirar da gravação o barulho do chuveiro que fora improvisado em pleno estúdio. Aí sim, debaixo da água morninha, a Matilde cantou, e como cantou. De roupa de banho, claro, que ela é moça de família.
E, como não podia deixar de ser nesse caso, o disco vendeu como água. A correria agora é dos apresentadores de programa de televisão, todos instalando chuveiros no palco para receber nossa Matilde, a voz dos banheiros do Brasil.
Meme #2
Em Neve, um dos livros que estou lendo —pois é, eu leio mais de um ao mesmo tempo, não sei se isso é bom ou ruim—, meu amigo Orhan Pamuk escreveu, na quinta frase da página 161:
"Você via que o mundo era um, mas achava que
se pudesse fechar os olhos a essa visão, podia
ser mais infeliz e também mais inteligente."
* * *
Este quem me passou foi o sr. Sem Sono. Passo, caso queiram aceitar, ao Tyler, ao Rob e à Stephie. Qual é a quinta frase da página 161 do livro mais próximo de vocês?
"Você via que o mundo era um, mas achava que
se pudesse fechar os olhos a essa visão, podia
ser mais infeliz e também mais inteligente."
* * *
Este quem me passou foi o sr. Sem Sono. Passo, caso queiram aceitar, ao Tyler, ao Rob e à Stephie. Qual é a quinta frase da página 161 do livro mais próximo de vocês?
3.4.08
Meme
1. Por que resolveu criar um blog?
Meia dúzia de amigos me comprou com uns elogios baratos. Disseram que eu devia escrever mais, que queriam ler o que eu escrevia e eu, bobo, caí na deles.
2. O que te dá mais prazer em blogar?
Os amigos que fiz pela blogosfera, já conheci muita gente bacana por aí, muita mesmo, e bacana mesmo. Tenho uma teoria de que o blogger, afinal, é meio que um grande boteco. E o bom é que não precisa pagar couvert para os artistas.
3. Indique um blog bom e um blog que você não gosta e por quê!
Não é por nada, não, mas eu gosto do Depósito de Idéias. Todo mundo lá é profissional, eu sou o único amador.
E assim: eu gosto de blogs em que a pessoa escreva. Pode ser até sobre o que comeu no almoço, pode até ser sobre o passeio no shopping, pode até escrever errado, pode até —Deus me perdoe!— ser em miguxês, mas se foi a própria pessoa quem sentou ao computador, pensou e escreveu merece meu respeito. Ctrl+c ctrl+v, piadinha infame e vídeo do BBB é o fim da picada.
4. Qual seu tipo de música e quais suas bandas favoritas?
Jazz. Sem dispensar uma sinfoniazinha do Ludwig, um toque oriental zen, uma trilha sonora escolhida a dedo e o bom e velho rock 'n' roll. É como diria meu grande amigo, o Chet: "I'm old fashioned, but I don't mind it".
5. Sobre qual assunto você mais gosta de postar?
Coisas simples, que acontecem com todo mundo todos os dias. Não sou bom com histórias muito elaboradas, então tento escrever sobre o cotidiano. Quem, por exemplo, nunca sonhou com férias no Zwkrshjistão enquanto folheava um catálogo de agência de turismo?
6. Seaquinevasseceusavaesqui?
Certeza! E snowboard também.
7. Você é: casado, solteiro, separado, enrolado, desquitado, chutado, viúvo ou outros?
Solteiro. O que não quer dizer "desesperado".
8. Por que você deu este nome ao seu blog?
"Acepipes" é uma palavra que eu acho legal e parece que as pessoas acham engraçado quando eu digo. Quem me ensinou foi o tio Careca. Grande tio Careca.
9. Qual foi o último blog que você visitou?
O Championship Vinyl, de onde copiei estas perguntas.
10. Porque resolveu participar deste meme?
Porque o Rob, que me convidou para participar, é um grande sujeito. E porque eu ando numa maré desgraçada de falta de criatividade, o meme veio bem a calhar.
Meia dúzia de amigos me comprou com uns elogios baratos. Disseram que eu devia escrever mais, que queriam ler o que eu escrevia e eu, bobo, caí na deles.
2. O que te dá mais prazer em blogar?
Os amigos que fiz pela blogosfera, já conheci muita gente bacana por aí, muita mesmo, e bacana mesmo. Tenho uma teoria de que o blogger, afinal, é meio que um grande boteco. E o bom é que não precisa pagar couvert para os artistas.
3. Indique um blog bom e um blog que você não gosta e por quê!
Não é por nada, não, mas eu gosto do Depósito de Idéias. Todo mundo lá é profissional, eu sou o único amador.
E assim: eu gosto de blogs em que a pessoa escreva. Pode ser até sobre o que comeu no almoço, pode até ser sobre o passeio no shopping, pode até escrever errado, pode até —Deus me perdoe!— ser em miguxês, mas se foi a própria pessoa quem sentou ao computador, pensou e escreveu merece meu respeito. Ctrl+c ctrl+v, piadinha infame e vídeo do BBB é o fim da picada.
4. Qual seu tipo de música e quais suas bandas favoritas?
Jazz. Sem dispensar uma sinfoniazinha do Ludwig, um toque oriental zen, uma trilha sonora escolhida a dedo e o bom e velho rock 'n' roll. É como diria meu grande amigo, o Chet: "I'm old fashioned, but I don't mind it".
5. Sobre qual assunto você mais gosta de postar?
Coisas simples, que acontecem com todo mundo todos os dias. Não sou bom com histórias muito elaboradas, então tento escrever sobre o cotidiano. Quem, por exemplo, nunca sonhou com férias no Zwkrshjistão enquanto folheava um catálogo de agência de turismo?
6. Seaquinevasseceusavaesqui?
Certeza! E snowboard também.
7. Você é: casado, solteiro, separado, enrolado, desquitado, chutado, viúvo ou outros?
Solteiro. O que não quer dizer "desesperado".
8. Por que você deu este nome ao seu blog?
"Acepipes" é uma palavra que eu acho legal e parece que as pessoas acham engraçado quando eu digo. Quem me ensinou foi o tio Careca. Grande tio Careca.
9. Qual foi o último blog que você visitou?
O Championship Vinyl, de onde copiei estas perguntas.
10. Porque resolveu participar deste meme?
Porque o Rob, que me convidou para participar, é um grande sujeito. E porque eu ando numa maré desgraçada de falta de criatividade, o meme veio bem a calhar.
Assinar:
Postagens (Atom)