29.11.08

Dia-a-dia #8

Outro dia, quando minha mãe veio dizer de novo que era perigoso chegar de moto de madrugada em casa, eu respondi que "mas eu sou perigoso também, mãe" e ela quase acreditou. Quase. Preciso assistir de novo o Um punhado de dólares para praticar meu olhar de Clint Eastwood.

27.11.08

Um pedido sério

Já que tenho um blog, e já que algumas pessoas leem as baboseiras que deixo aqui, uso isso para um recado um tanto diferente hoje.
     É que meus vizinhos de baixo, os catarinenses –que, apesar de dirigirem pior que minha vó sem óculos, são um povo bem bacana e sabem fazer cerveja boa–, estão enfrentando uma tragédia como poucas houve no Brasil. E a palavra "tragédia" não é exagero meu.
     Há pais procurando pelos filhos e crianças chorando pelos pais; eu mesmo tenho conhecidos aqui em Curitiba agoniados atrás de notícias de parentes desaparecidos sabe-se lá se em algum abrigo ou já debaixo da terra. Soube que há pessoas saqueando supermercados, procurando em meio à água o que ainda se pode comer.
     Não se tratam de acomodados, são pessoas como eu ou você, que tinham casa, emprego, família, uma vida comum e agora têm que se humilhar e brigar como animais por uma garrafa de água ou roubar um pacote de bolachas.
     Não sei como funciona em outros estados, mas aqui no Paraná vários órgãos públicos e privados estão recolhendo doações do que quer que seja: dinheiro, roupas, comida, água, colchões, medicamentos...
     O que quer que seja.
     Eles contam conosco.

(e em breve com nossa programação normal)

17.11.08

Olhai as aves do céu

          Em homenagem à simpática família
          que veio morar na garagem de casa.


É primavera.
     Cedo, assim que nasce o sol atrás da serra, sem cerimônia, sabiá sai assobiando sossegado e lança-se à sua missão.
     Nem aí com as pessoas na cozinha, nem aí com quem ganhou as eleições nos Estados Unidos, nem aí com o Brasileirão, o bichinho passa carregando galho depois de galho. Vai juntando tudo numa prateleira da garagem, entre dois vasos de violetas. "Bom lugar para se trazer uma garota", deve pensar; é um sabiá romântico. Entre um galho e outro, já que o petisco está ali dando bobeira, ele se serve de um grão de ração da tigela do cachorro e, se não estivesse frio, talvez se banhasse na água da outra tigela; é um sabiá folgado também.
     Desde que o mundo é mundo, desde que sabiás são sabiás a coisa funciona assim. Nenhum outro o ensinou: ele simplesmente sabe o que tem que fazer. E faz. Nunca lhe passou pela cabecinha emplumada fazer outra coisa que não isso. E assobiar, porque além de carregar galhos ramos talos brotos folhas até flores, o sabiá sabe assobiar.
     Tempo bom, o sabiá está lá, de galho no bico. Tempo ruim, o sabiá está lá, de galho no bico. Bom construtor, o material é todo de qualidade. Bom engenheiro, parece que tão cedo não vai cair. Bom arquiteto, logo o emaranhado toma jeito de casa. No fim das contas, é um ninho. E um baita ninho de sabiá que come ração de cachorro.
     A noitada deve ter sido boa. E merecida, porque o sabiá bem que arrumou tudo direitinho, é rapaz de família. Belo dia, entre os dois vasos de violeta amanhece por lá a nora que mamãe pediu a Deus, sabiazinha vistosa, de peito amarelo e olhos vigilantes. Não por coincidência, não tarda para que surjam três ovinhos.
     Namorado apaixonado, sabiá macho leva café da manhã na cama para a sabiá fêmea. Minhocas selecionadas e frutas da estação -ela não gosta de ração, homem é que come qualquer porcaria na rua-, como convém a uma moça de bons costumes. Que emoção quando o primeiro ovo, mais espertinho, começa a chutar dentro da casca. Logo o segundo e o terceiro também. A casca vai ficando pequena, pequena até que mamãe sente uma pontada, e outra, e outra. Nascem feinhos, os pobres, mas ai de quem disser isso a uma mãe sabiá orgulhosa.
     A situação complica, as despesas aumentam, e mamãe sai de casa atrás de comida também. Agora são dois caçando minhocas para sustentar a casa. Porque estão lá, três biquinhos abertos para o alto, piu piu piu sem parar. Três sacos sem fundo e sem penas que um dia virarão sabiás e terão seus próprios ninhos porque assim é a vida.
     Diz que lá fora o petróleo está acabando, o capitalismo anda em colapso, o buraco da camada de ozônio aumentou de novo e o gelo do Ártico derreteu quase todo. Mas os sabiás não sabem de nada disso, têm mais no que pensar.

* * *
ps. E hoje, dia seguinte ao post, dei com os três filhotinhos no chão de manhã. Algum gato se encarregou de dar um final triste para minha historinha. Mamãe sabiá não sei para onde foi.

15.11.08

Filmes #4

Não sei, não acho que tenha sido boa ideia esse Daniel Craig como Bond, James Bond. Para mim, ele está muito mais para tomador de cerveja do que para apreciador de martini. Ainda se fosse Guinness não seria nada mau, mas tenho certeza de que ele toma Antarctica.