17.2.11

Dois dias

Faltam dois dias para o nosso casamento.
     Faltam dois dias para o nosso casamento e eu estou aqui, uma furadeira na mão, uma chave de fenda na outra e mil pensamentos martelando na cabeça.
     E enquanto eu vejo minha vida, esta minha vida como eu vivi até agora, acabar, eu tento enganar o tempo e adivinhar pedaços dessa vida nova que vem pela frente. Essa vida que começa daqui a dois dias.
     E, olha, eu te vejo chegando meio assim para contar que quebrou um dos meus copos de chá, aqueles. E me vejo mal humorado porque bati seu carro naquela vaguinha minúscula na garagem do prédio. Te vejo oferecendo carona num dia de chuva e me vejo turrão saindo de moto mesmo assim. Te vejo chorando com cada surpresinha que eu aprontar, essas besteirinhas que eu invento e que você é generosa o suficiente para enxergar como grandes coisas. Me vejo deliciado com cada jantar especial –e saiba que já estou esperando, porque também não é de graça que quis casar com uma chef de cozinha– que você nos fizer.
     Mil pensamentos, coisas boas, coisas difíceis, um monte, e desejo que eu seja o que você espera de mim. Não tenho vergonha de dizer que tenho, sim, um pouco de medo. Medo de te decepcionar. Às vezes me olho e penso que não sou mais que um menino crescido, com uma furadeira na mão, uma chave de fenda na outra e mil pensamentos martelando na cabeça.
     E então eu respiro mais uma vez, olho no fundo desses olhos azuis e sei que tudo isso é bobagem minha. E que é só deixar a vida acontecer e deixar que venha aquela parte do "e eles viveram felizes para sempre".
     Porque já está vindo.