Quem diria que um dia eu me renderia à sabedoria do Pequeno príncipe, eu, que achava tão piegas. Redondamente enganado.
Cresci e a vida ficou chata. Aliás, corrijo: não foi a vida –que eu absolutamente não tenho do que reclamar—, foram as conversas que ficaram chatas. Lembro que quando tinha lá meus quatro ou cinco anos de idade, conhecia amigos com quase sempre as mesmas perguntas básicas.
— Qual sua comida preferida?
— Você gosta de andar de bicicleta?
— Quantos irmãos você tem?
— Qual é o nome da sua mãe?
— Você tem cachorro?
Depois de um questionário assim, eu já conhecia tudo o que precisava sobre o sujeito. Já sabia se era confiável ou não, se podia entrar na brincadeira ou não. Se podia pegar emprestado meus bonecos do He-Man e dos Thundercats ou não. Essas coisas.
Abre parênteses, que um flash de memória me veio agora. Morena, charmosa, olhos grandes, quase selvagens. Estávamos os dois sentados displicentemente numa escada e o papo girou basicamente em torno de nossos pontos em comum: não gostávamos de remédio, tínhamos irmãos mais novos e ambos tínhamos quatro anos. Acho que foi minha primeira conversa mais longa e aí é que começou a derrocada. Fecha parênteses.
Hoje em dia as coisas são diferentes, não posso mais fazer isso. A não ser que queira, deliberadamente, que as pessoas pensem que eu sou autista –o que pode até ser útil em certas ocasiões. Como quero que me levem a sério, eu tenho agora que conversar assim:
— Parece que pegou mal o Papa ter readmitido o tal do bispo lá.
— E a taxa de juro que o Copom quer propor? Ridículo, impossível enfrentarmos a crise assim.
— Diz que a Companhia das Letras vai aproveitar o embalo do Nobel e publicar toda a obra do Le Clézio.
— Não vejo com bons olhos esse novo premiê de Israel...
Não se pode mais perguntar as coisas que realmente eram legais de se saber. Tente só perguntar para um marmanjo que chega no primeiro dia no setor se ele tem algum bonequinho do Comandos em Ação, ou contar para o recrutador daquela vaga de emprego que você sabe tudo sobre Caverna do dragão. E vá perguntar para uma mulher quantos anos ela tem!
É fogo.
31.3.09
12.3.09
10.3.09
Foi numa tarde ensolarada
Fui presenteado com uma tarde de sábado ensolarada, dessas tão raras em Curitiba. Não poderia deixar passar uma oportunidade assim. Pode parecer mentira, mas uma garoa fina, um borrifo de nuvem, caiu quando fechei o portão: saí debaixo de um arco-íris. Não poderia deixar passar uma oportunidade assim, não mesmo.
Talvez fosse tarde demais, talvez já houvesse muito tempo entre nós, talvez eu já a tivesse deixado escapar, talvez ela já estivesse cansada da minha demora. Mas algo me dizia que não, uma tarde que começava assim não poderia ter um final menos do que perfeito.
Subi na moto e saí. Saí numa tarde ensolarada de sábado, debaixo de um arco-íris. Saí não sem rumo, não só por sair, como por tanto tempo vinha fazendo; saí e tinha porque sair, tinha porque chegar. Por quem chegar.
Ela me esperava. E quando a vi, aquele sorriso, aqueles olhos azuis me disseram que ainda era tempo.
Passeamos pelo museu. Há quanto tempo eu esperava por alguém que fosse ao museu comigo, há quanto tempo eu esperava alguém que me perguntasse qual quadro gostei mais, alguém que me mostrasse algo em que eu não tivesse reparado, alguém que me lembrasse de pegar os catálogos, que me ensinasse a olhar mais de longe, que risse dos meus comentários e fizesse outros que me fizessem rir.
Todos os bancos estavam lotados, todos os bancos menos um. Não poderia deixar passar uma oportunidade assim.
Sentamos. Respirei fundo. Olhei para longe. Falei.
Na hora eu neguei, mas tudo bem, agora eu admito: minhas mãos tremiam, sim. E o coração pulava. Mas quando terminei, ela olhava para mim, só para mim, e eu soube que teria a resposta que esperava. Eu poderia morar dentro daqueles olhos azuis. E tenho certeza de que eu caberia neles, porque existe um mundo lá dentro.
E um beijo.
Conversamos, falamos sobre o tempo perdido, tempo que decidimos não perder mais.
E meu mundo, que andava tão silencioso, que andava tão sem graça, ganhou luz, cor, ganhou aquele perfume doce que eu senti quando a beijei no fim do dia antes de voltar para casa.
Talvez não valha nem a pena comentar o tombo bobo que eu tomei de moto logo depois. Escorreguei sozinho, caí como um menino que cai de bicicleta e levantei rindo de mim mesmo. Rindo da vida, rindo para a vida. Vai ver o amor me deixou bobo.
Ela saiu de um quadro do Botticelli para a minha vida. E eu a amo por isso.
Talvez fosse tarde demais, talvez já houvesse muito tempo entre nós, talvez eu já a tivesse deixado escapar, talvez ela já estivesse cansada da minha demora. Mas algo me dizia que não, uma tarde que começava assim não poderia ter um final menos do que perfeito.
Subi na moto e saí. Saí numa tarde ensolarada de sábado, debaixo de um arco-íris. Saí não sem rumo, não só por sair, como por tanto tempo vinha fazendo; saí e tinha porque sair, tinha porque chegar. Por quem chegar.
Ela me esperava. E quando a vi, aquele sorriso, aqueles olhos azuis me disseram que ainda era tempo.
Passeamos pelo museu. Há quanto tempo eu esperava por alguém que fosse ao museu comigo, há quanto tempo eu esperava alguém que me perguntasse qual quadro gostei mais, alguém que me mostrasse algo em que eu não tivesse reparado, alguém que me lembrasse de pegar os catálogos, que me ensinasse a olhar mais de longe, que risse dos meus comentários e fizesse outros que me fizessem rir.
Todos os bancos estavam lotados, todos os bancos menos um. Não poderia deixar passar uma oportunidade assim.
Sentamos. Respirei fundo. Olhei para longe. Falei.
Na hora eu neguei, mas tudo bem, agora eu admito: minhas mãos tremiam, sim. E o coração pulava. Mas quando terminei, ela olhava para mim, só para mim, e eu soube que teria a resposta que esperava. Eu poderia morar dentro daqueles olhos azuis. E tenho certeza de que eu caberia neles, porque existe um mundo lá dentro.
E um beijo.
Conversamos, falamos sobre o tempo perdido, tempo que decidimos não perder mais.
E meu mundo, que andava tão silencioso, que andava tão sem graça, ganhou luz, cor, ganhou aquele perfume doce que eu senti quando a beijei no fim do dia antes de voltar para casa.
Talvez não valha nem a pena comentar o tombo bobo que eu tomei de moto logo depois. Escorreguei sozinho, caí como um menino que cai de bicicleta e levantei rindo de mim mesmo. Rindo da vida, rindo para a vida. Vai ver o amor me deixou bobo.
Ela saiu de um quadro do Botticelli para a minha vida. E eu a amo por isso.
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