10.12.12

A primeira carta de um pai


Ontem amanheceu um domingo quieto e fresco depois de dias de calor escaldante. Depois de tomarmos café, eu olhava distraído a neblina se dissipando lá fora e não foi preciso palavras: bastou que sua mãe chamasse meu nome para que eu soubesse que você existia. Bastou que ela me olhasse com olhos de mãe para que eu soubesse que serei pai.
     Por um segundo não acreditei na notícia, e então meu coração me convenceu do que meus olhos estavam vendo, do que meus ouvidos não precisaram escutar. Não me lembro de alguma vez ter chorado tanto. Serei seu pai.
     Já faz um tempo que a casa parece vazia. Embora sua mãe seja ótima companhia, venho sentindo falta de alguém e, embora seja uma companhia até que esforçada, sei que eu já não sou mais tudo o que ela espera encontrar depois de um dia de trabalho. Mas não é só um vazio, é o seu lugar que já vinha se criando.
     Quando primeiro abrir os olhos (sua mãe e eu estaremos lá), não vou mentir: você vai encontrar um mundo difícil de entender. Dizem que os tempos andam complicados, que as coisas não são mais as mesmas, dizem até que é loucura botar filhos neste mundo. Mas não se deixe preocupar muito, não: todos os tempos, cada um a seu modo, foram complicados. A maldade vai se reinventando de época em época, mas a Verdade continua a mesma desde sempre. É um mundo cheio de lugares lindos e pessoas incríveis, você vai ver.
     Espera só até conhecer tantos amiguinhos, tanta gente que desde ontem tem emocionado à sua mãe e a mim com tantas demonstrações de carinho. Espera só até pegarmos nossos livros e eu te contar tudo o que aprontaram o Peter Pan e o Capitão Gancho. Espera só -espera só!- até seu avô imitar o urso Baloo num dia em que você dormir na casa dele, e até ouvir o outro avô cantando um samba do Chico Buarque feliz da vida, e as avós fazendo bolos e doces pra comerem escondidos antes que alguém descubra. Espera só, minha criança querida, até passearmos por uma rua todinha tomada de ipês floridos de dourado, sentindo o vento gostoso de um fim de tarde. Espera só até irmos ao zoológico. Espera só até você pegar no sono olhando para aquela imensidão de doçura que são os olhos azuis da sua mãe. É tanta coisa que não cabe em todas cartas do mundo...
     Umas semanas atrás, arrumei o presépio aqui em casa. São umas figuras pequenininhas, um burro, uma vaca, dois carneiros, um pastor, três reis, um anjo, um pai, uma mãe e uma manjedoura ainda vazia. Uma chama tem ficado acesa todas as noites, velando pelo Menino que está para chegar. Quis o Menino que também minha casa se tornasse digna de uma espera tão abençoada. Agora, aqui também temos uma manjedoura preparada. Agora, aqui também esperamos uma criança.
     Não se precisou de palavras. Bastou que sua mãe me olhasse de um certo jeito para que eu soubesse que minha vida está mudada para sempre.
     Amo você desde o seu primeiro momento e amarei até o meu último.
     Seu pai.

* * *
Há uns meses atrás, com uma carta, acabei tirando, por preguiça, um tempo do blog. Hoje, outra carta, com um motivo muito mais nobre, me deu motivo para voltar.

22 comentários:

vovó Daisy disse...

que linda carta, muito emocionante, parabéns novamente....

Eli Kuhnen disse...

oxiii.... a tempos que não escreve no seu blog, e quando escreve é sempre pra arrasar com a emoção da gente, assim não vale! rs
Parabéns Compadre! é uma vida maravilhosa que te espera...
beijos

Lubi disse...

arrepiou meu corpo inteiro.
deve ser uma sensação maravilhosa.

esse bebê vai ser lindo, a completude da família de vocês. parabéns!

Izabela Santos disse...

Muito linda, parabéns!!!

Magnum Opus disse...

Êba! Já estava ficando preocupado que meu filho não teria nenhum amiguinho(a)! Esse mundo está virado mesmo, mas que ele(ela) venha com muita saúde que o resto a gente se vira! =)

Unknown disse...

Simplesmente, lindo. Vocês merecem demais!!!!

Kati disse...

Quando li a introdução pelo face, e conhecendo seu blog já esperava em encontrar algo especial, mas foi muito mais do que isso, emocionante.

Janayna disse...

que palavras mais lindas!!
guarde sempre esse sentimento maravilhoso dentro de você.
e sempre que possível escreva cartas, palavras são preciosas demais para serem esquecidas.
parabéns por mais essa aventura, parabéns.

Tatiane disse...

Fantástico!!! Me fez chorar com esta linda carta. Deus os abençoe!

Ligia disse...

Bruno, poucas vezes li uma coisa tão linda como suas palavras, ou melhor, sua emoção em forma de letras! Parabéns duplo! Por esse presente especial, e por tão nobre e belo sentimento! Abração

Unknown disse...

Bruno, espera só seu menino escrever a primeira carta para você, papai... Parabéns! Quanta ternura em suas palavras :)

Anônimo disse...

Bruno, espera só seu menino escrever a primeira carta para você, papai... Parabéns! Quanta ternura em suas palavras :)
Lilia Carvalho.

Vera Coutinho disse...

Que lindo! Fiquei muito tocada, muito emocionada. Fiquei feliz!

Marisa disse...

Bruno - palavras lindas! Sou avó de 3 crianças lindas, saudáveis e muito amadas, assim como seu menino será. Suas palavras me emocionaram.ë muito difícil encontrar um jovem pai, que consegue traduzir em palavras o turbilhão de emoções que a notícia da chegada de uma criança provoca. Parabéns pelas palavras e parabéns ao jovem casal

Leo disse...

Duplo parabéns pra você!

João Octávio disse...

Amigo, totalmente sem palavras. Parabéns pelo filho vindouro e mais parabéns ainda pelo modo como você o encara.

Letícia disse...

Não tenho palavras para descrever o que estou sentindo. É um pedacinho de mim, e da pessoa que escolhi para passar o resto da vida ao meu lado.

Se tem uma coisa que eu tenho certeza é que meu filho terá um pai muito especial.

Te amo!

Lucas Reis disse...

Arrepiado! Só.

Kakau® disse...

Lindo, lindo, lindo...
Que esse anjo traga ainda mais amor e felicidades à vocês!

Parabéns Le e Bruno!! :)

volver disse...

Aaaaah chorei muito lendo isso, que lindo! Parabens!!

Giovana disse...

Me emocionei, muito!

Sandra Küster disse...

Ter filhos acredito, ser a tarefa mais difícil a que um ser humano possa se dedicar. Maria que o diga...
Mas ao mesmo tempo, por mais difícil que seja, a verdade é que quando sentimos pela primeira vez o bendito sopro da maternidade (ou paternidade) a primeira pergunta que vem à nossa cabeça é: como pudemos viver tanto tempo sem este ser, como é possível amar tanto... Você vai ver...rs.
Sandra